quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Dores Agudas

Não me ressinto pelo que já sofri.
Não me inquieto com a angústia que me assedia.
Não esperneio, não fujo, não reluto,
com o desespero que ainda vai chegar.
(Deus teve apenas um filho sem pecado,
mas nenhum sem sofrimento).
Depois de mais de meio século de vida,
descobri, finalmente, o que me magoa.
Querer repartir verdades que me entusiasmam
e perceber que produzo inquietação.
Não encontrar ouvidos interessados
nas descobertas que iluminam a minha alma.
Sentir-me estrangeiro entre antigos irmãos.
Ofertar o melhor do meu coração
e acabar sob suspeita de ser manipulador.
Tentar fazer o bem e ver-me odiado.
Não conseguir transformar vaidade em admiração,
coleguismo em amizade, bajulação em honra,
ousadia em sensibilidade e zelo em delicadeza.
Saber que me retalharam
junto com a pizza do domingo.
Saber dos boatos que pessoas más inventaram
e não ter como desmenti-los.
Perder possíveis irmãos
porque fui infeliz com uma palavra mal escrita
ou com uma colocação
tempestiva em alguma palestra.


Autor: Ricardo Gondim
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