Todos os olhares da Berlinale estão voltados para o longa iraniano Nader and Simin, A Separation em função dos tributos e protestos a favor da liberdade do diretor também iraniano Jafar Pahini, que continua preso e impedido de participar do júri deste ano.
"Eu sinto muito. Eu acredito que todos os diretores do mundo ficaram tristes em função desse evento. Vocês conhecem Pahini pelos seus filmes, mas eu o conheço como pessoa. Fiquei triste por estar vindo para cá, um lugar em que ele não pode vir. Antes de viajar, liguei para ele para me despedir", lamentou o diretor Asghar Farhadi.
Após a exibição do filme para a imprensa esta manhã, Farhadi e o elenco foram aplaudidos de pé na entrevista coletiva. Na trama, o casal protagonista - vivido por Leila Hatami e Peyman Moadi - se divorcia, trazendo duros acontecimentos para ambos e sua filha, interpretada por Sariba Farhadi. Ambientado no Irã, onde os contrastes entre tradição e religião colidem com ondas de modernidade, mentira, verdade, oportunismo e arrependimento causam reflexão e prendem a atenção do público com as nervosas discussões dos personagens no tribunal.
"Mesmo que o Irã seja lembrado como um país muito tradicional, houve uma modernização muito rápida. Não estou dizendo que isso é bom ou ruim. A taxa de divórcio, por exemplo, é altíssima. Essas rápidas mudanças causam muitas crises - principalmente o conflito entre classes sociais. De um lado, os pobres mais tradicionais; do outro, as classes altas que querem viver de acordo com regras mais modernas", explicou.
Apesar de mostrar fortes aspectos conservadores do Islã, Farhadi alega que o filme não deve ser julgado como uma obra sobre o Irã ou sobre a religião em si. Mas sobre o conflito entre o velho e o novo - o que a maioria das sociedades vem encarando nas últimas duas décadas.
"O filme não é sobre um país. É uma crise de moral. Como a moral se define, quais padrões nos baseamos para definir o que é certo e errado? Religião, tradição? Comparamos o que fazemos com os padrões do passado. Mas as situações que as pessoas encaram atualmente são muito mais complexas, tornando esses padrões obsoletos. Não há mais referências. Buscam-se então novas definições de moral".
Como em outros dos seus filmes, Farhadi não busca esclarecer ou dar um desfecho para a história. Ele afirma que questionar o público, trazê-lo à reflexão tem muito mais impacto do que simplesmente dar um ponto final na trama.
"O fim pode ser um começo. Um incentivo para fazer perguntas. Finalizar um filme assim deixa claro para a audiência que a história não terminou. Eles a levam junto. Nunca quero fechar ou terminar a história", contou o diretor.
Fonte: Terra
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"Eu sinto muito. Eu acredito que todos os diretores do mundo ficaram tristes em função desse evento. Vocês conhecem Pahini pelos seus filmes, mas eu o conheço como pessoa. Fiquei triste por estar vindo para cá, um lugar em que ele não pode vir. Antes de viajar, liguei para ele para me despedir", lamentou o diretor Asghar Farhadi.
Após a exibição do filme para a imprensa esta manhã, Farhadi e o elenco foram aplaudidos de pé na entrevista coletiva. Na trama, o casal protagonista - vivido por Leila Hatami e Peyman Moadi - se divorcia, trazendo duros acontecimentos para ambos e sua filha, interpretada por Sariba Farhadi. Ambientado no Irã, onde os contrastes entre tradição e religião colidem com ondas de modernidade, mentira, verdade, oportunismo e arrependimento causam reflexão e prendem a atenção do público com as nervosas discussões dos personagens no tribunal.
"Mesmo que o Irã seja lembrado como um país muito tradicional, houve uma modernização muito rápida. Não estou dizendo que isso é bom ou ruim. A taxa de divórcio, por exemplo, é altíssima. Essas rápidas mudanças causam muitas crises - principalmente o conflito entre classes sociais. De um lado, os pobres mais tradicionais; do outro, as classes altas que querem viver de acordo com regras mais modernas", explicou.
Apesar de mostrar fortes aspectos conservadores do Islã, Farhadi alega que o filme não deve ser julgado como uma obra sobre o Irã ou sobre a religião em si. Mas sobre o conflito entre o velho e o novo - o que a maioria das sociedades vem encarando nas últimas duas décadas.
"O filme não é sobre um país. É uma crise de moral. Como a moral se define, quais padrões nos baseamos para definir o que é certo e errado? Religião, tradição? Comparamos o que fazemos com os padrões do passado. Mas as situações que as pessoas encaram atualmente são muito mais complexas, tornando esses padrões obsoletos. Não há mais referências. Buscam-se então novas definições de moral".
Como em outros dos seus filmes, Farhadi não busca esclarecer ou dar um desfecho para a história. Ele afirma que questionar o público, trazê-lo à reflexão tem muito mais impacto do que simplesmente dar um ponto final na trama.
"O fim pode ser um começo. Um incentivo para fazer perguntas. Finalizar um filme assim deixa claro para a audiência que a história não terminou. Eles a levam junto. Nunca quero fechar ou terminar a história", contou o diretor.
Fonte: Terra
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