domingo, 10 de julho de 2011

Ex-padre afirma que Jesus Cristo é apenas um mito e lança livro "Onde a religião termina?"

Jesus Cristo é apenas um mito, evangélicos são idólatras da Bíblia - livro repleto de contradições e distorções -, a igreja católica é uma grande seita lavadora de cérebros, espiritismo consola mas não liberta, budistas já sujaram as mãos com sangue, religião atrasa a evolução da humanidade, ateus e materialistas são crentes equivocados, homossexualidade é bastante comum entre padres, a ideia de Deus das grandes religiões foi criada à imagem e semelhança das necessidades humanas. Essas são algumas das teses defendidas pelo ex-sacerdote católico Marcelo da Luz, 42, no livro Onde a religião termina?, lançado pela Editares.

Por ter dedicado cerca de 20 anos da sua vida como frade franciscano e padre, o autor, natural de Queimados (RJ), foca boa parte de suas críticas à igreja católica. Em trechos do livro, ele a descreve como incentivadora de infantilismos da consciência, de graves sentimentos de culpa, dependência eclesiástica, ignorância, superstições institucionalizadas e de acobertar numerosos casos de pedofilia e abusos sexuais contra mulheres. O Frei Aloísio Fragoso, frade franciscano do convento de Santo Antônio, em Olinda, não nega as denúncias de Marcelo, mas pondera: “A igreja católica engloba mais de um bilhão de pessoas. Tudo isso que ele falou acontece e continua acontecendo. Por outro lado, também temos muitos casos de verdadeira libertação, mudanças de vida, homens de grandeza como Dom Helder Câmara, Evaristo Arns e muitos outros”.

Para escrever Onde a Religião Termina?, além de vivência pessoal e de extensa bibliografia, Marcelo da Luz teve como base de conhecimentos suas graduações, feitas no Brasil, Itália, e Estados Unidos, em Ciências Humanas, Filosofia, Teologia (a qual ele aponta como pseudociência, visto que nessa linha de saber "não há verdadeira pesquisa, mas apenas comparações de interpretações feitas ao longo da História sobre os mesmos dogmas") e Conscienciologia. Esta neociência, proposta pelo médico brasileiro Waldo Vieira, estuda a consciência humana admitindo-se a hipótese da multidimensionalidade do universo, do próprio ser humano, serialidade da existência (reencarnação) e dos chamados fenômenos paranormais ou parapsíquicos, despidos de misticismos, deslumbramentos, religiosidades, cultos, rezas, orações ou subserviência a um suposto Deus criador.

Marcelo da Luz rebate a teoria de estudiosos materialistas que atribuem a origem das religiões a delírios ou à imaginação dos nossos ancestrais. Em vez dessa hipótese, ele lança outra a qual atribui a gênese dos movimentos religiosos a "enganos parapsíquicos". Ignorantes e inexperientes em relação a tais fenômenos, membros de sociedades primitivas se deslumbraram ou se amedrontaram diante de aparições de pessoas já mortas, visões clarividentes, audição de "mensagens", entre outras ocorrências “absolutamente naturais” (ou paranormais), para estudantes de Conscienciologia como o ex-sacerdote, mas que foram interpretados erroneamente pelo viés místico.

Em relação ao espiritismo, Marcelo da Luz afirma que ela representou grande avanço em relação ao catolicismo e ao protestantismo, no que se refere ao conhecimento, a interações com o mundo extrafísico e ao maior uso da razão. No entanto, na visão dele, a doutrina acabou por aprisionar a si e a seus integrantes num mar de pieguismos, cristolatria (idolatria a Jesus Cristo) e na repetição dos mesmos comportamentos infantilizantes observados em membros de religiões mais antigas.

Informado sobre o teor do conteúdo do livro de Marcelo da Luz e das críticas deste ao espiritismo, o mestre em psicologia, doutorando em neuropsiquiatria e escritor espírita, Spencer Júnior, não demonstrou nenhuma surpresa ou repulsa à visão do conscienciólogo. Pelo contrário: "A atual constituição institucional do espiritismo interrompeu uma perspectiva universalista. Vive-se dentro de uma espécie de sono antropológico. Até existem tentativas de se retomar o caráter científico, de pesquisa, mas que travam diante de atitudes medievais. Por não agir com discernimento e autocrítica, diversos espíritas apresentam comportamentos tão arcaicos e radicais quanto o de fanáticos de outras religiões. Isso é anticristão, no sentido ético do termo", lamenta o também professor da Universidade de Pernambuco (UPE).



Fonte: JC Online
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