sábado, 9 de julho de 2011

O Pregador, a Arrogância e a Compaixão

Quando era um pregador novato brandia a foice da morte, de cima de um monte, contra os pecadores das sodomas, que estavam lá ao longe e no fundo do vale ouvindo meus xingamentos e ficava cada vez mais irado quando via que andavam para o abismo, sem dar ouvidos a meus uivos em nome de Deus. De tanto escorregar de meu monte da arrogância e cair estatelado, mais atolado que eles, envergonhado, acabei-me por dobrar-me ao amor e compaixão. Não critico aqui nosso emocionar nos sermões, mas a emoção errada.

Existe, no cristão, certa arrogância, por exemplo, contra os ateus. No entanto, estes não são os mais pobres seres humanos. O ateu nega a Deus porque não pode ainda encontrá-lo. Mas existem aqueles que já o encontraram e o negam assim mesmo. Pois existe diferença entre perder a Deus na busca a Deus e perder-se a si mesmo na busca a Deus e este último é o pior caso.

Toda arrogância no cristão é pecado. Ela deve ser substituída pela compaixão. Assim sofreremos horrivelmente com o ateu sua falta de encontro com Deus, mas sentiremos o fogo horrível com o negador de Deus. Neste sentido o mais desgraçado de todos os anjos é o diabo, que O conhece e o trai. E o mais desgraçado dentre os homens é o Judas, que também O conhece e O trai. Temos podido nós sofrermos com algum Judas o inferno presente?

Não existe compaixão sem renúncia e despojamento e aí está o início das dores de parto. Quem não tem compaixão prega onde está sem ir até o outro. Existem pregadores que viajam milhares de quilômetros e ainda continuam consigo mesmos e não com o outro. Ir ao encontro do outro é aespacial, é algo aqui e agora, uma atitude do coração. Na compaixão deixamos nosso lugar e vamos ao outro: “e o Verbo se fez carne e habitou entre nós (João 1:14).” A compaixão dá seu fruto na esperança. E daí, ao sofrermos com eles, por eles oraremos e teremos esperança enquanto morrem suas vidas na existência terrena.

Um dos mais horríveis quadros dos dias contemporâneos está na pessoa do homem bomba, terrorista que vai até onde está o outro para destruir-se destruindo o outro. O mais sublime está no homem dinamite de Deus, que se explode para dar vida a todos ao redor. Somente, então, na compaixão, na esperança e na oração que haverá de fato sentido na proclamação das boas novas sobre Deus. Fora disso pregar o Evangelho é cumprir um programa humano e estéril, mas pregá-lo a partir da compaixão é ativar de fato o “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Romanos 1:16).”


Fonte: Gedson Lidório
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