O Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro abriu inquérito para investigar a criação do cartão de crédito ‘Solidariedade Católica’. Lançado em dezembro de 2006 pelo então arcebispo do Rio, Dom Eusébio Scheid, é fruto de convênio entre a Associação de Solidariedade Justiça e Paz (ASJP) e o Bradesco. Como revelou o ‘Informe do DIA’, apesar de ser oferecido aos fiéis como uma iniciativa da Arquidiocese do Rio, a Associação nunca teve vínculo com a Igreja.
Fundada por Dom Eusébio e pelo padre Edvino Steckel, a associação foi fundada em junho de 2006. Afastado pelo atual arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, Edvino é também o secretário-geral vitalício da ASJP e foi responsável pela administração dos bens e recursos da Igreja no Rio.
Além de cobrar explicações sobre os anúncios do cartão de crédito, o promotor Julio Machado também quer saber se os responsáveis por ele estão cumprindo a promessa de destinar parte do dinheiro arrecadado com o pagamento das anuidades para obras sociais.
Segundo o promotor, os fiéis podem “estar sendo induzidos a erro a respeito da vinculação do cartão à Igreja Católica, aparentemente inexistente”. Anúncios do cartão de crédito chegaram a ser publicados nos roteiros das missas celebradas nas igrejas da arquidiocese. De acordo com Júlio, “cabe à Associação e ao Bradesco a comprovação do uso de parte das receitas do cartão em ações sociais”.
Após instaurar o inquérito, o promotor determinou o envio de ofícios com pedidos de informações ao Bradesco, à ASJP e à Arquidiocese do Rio. Ele também quer saber qual percentual do faturamento do cartão é enviado para ações sociais e os valores já destinados para instituições de caridade. O promotor também quer a identificação de todas as iniciativas beneficiadas.
Como O DIA mostrou ontem, auditoria realizada pela arquidiocese revelou que, nos 16 meses em que controlou as finanças da Igreja na capital, padre Edvino gastou R$ 14 milhões em despesas desnecessárias ou não justificadas.
A devassa nos gastos foi determinada, em maio, pelo arcebispo Dom Orani Tempesta, após o ‘Informe do DIA’ revelar a compra de um apartamento de luxo no Flamengo por R$ 2,2 milhões. O imóvel serviria como residência do antigo arcebispo. Dom Eusébio se mudou para o interior de São Paulo.
Gestão teve gastos exorbitantes
Foi na gestão de Dom Eusébio, que deixou a Arquidiocese em abril, que padre Edvino assumiu o comando do dinheiro da Igreja. Ele foi demitido do cargo de ecônomo no dia seguinte à publicação da notícia sobre a compra do apartamento na Av. Ruy Barbosa, no Flamengo, por R$ 2,2 milhões.
Padre Edvino determinou reformas na Arquidiocese que consumiram muito dinheiro. Como O DIA noticiou em maio, ele adquiriu móveis de luxo para sua sala — um sofá custou R$ 21.200 — e dois carros importados do modelo Jetta, de R$ 85.600 cada. Um era usado por ele; o outro, por D. Eusébio. O padre devolveu seu carro, mas o arcebispo ficou com o veículo.
Publicidade destacava ações sociais do Cartão Solidariedade
Nos anúncios veiculados nos roteiros das missas celebradas nas igrejas da Arquidiocese do Rio, o cartão era oferecido como um ato de caridade. Com a frase “Solidariedade levada a sério”, os responsáveis pela publicação disponibilizam um número de telefone gratuito para que fossem feitos os pedidos de emissão do polêmico cartão.
Substituído por Dom Orani Tempesta, o ex-cardeal arcebispo do Rio, Dom Eusébio Scheid, se mudou para o interior de São Paulo após sua aposentadoria. Ele ocupou o cargo na Arquidiocese do município por oito anos.
Fonte: O Dia Online
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