Por: Avelar Jr.
Cada dia que passa eu fico mais aterrorizado com as tendências da “gospelização” do evangelho. Tá, eu sei que “gospel” é evangelho em inglês e poderia ser redundante, mas não é em português. Estou usando esse termo para explorar a acepção comercial que ele ganhou ao substituir a palavra “sacra” no mercado fonográfico (música “sacra”; música gospel. Convenhamos: o “gospel” não é muito “sacro” hoje em dia); e também porque este termo ganhou uma penetração e popularização vertiginosa devido ao crescimento da população evangélica e do mercado voltado a esse segmento. “Gospel” sempre aparece nas embalagens de cacarecos evangélicos para vender. “Gospel” é “fashion”, vende, é “cool”, é “forward-looking” (termos em inglês, por alguma razão, sempre apelam mais para a simpatia dos consumidores, como os R$, 0,99 centavos no final dos preços). “Gospel” é diferente de "evangelho", que é cafona, quadrado, “coisa de crente” - por isso uso aquele termo no sentido pejorativo de “fé-comércio”.
O movimento “gospel” é repleto de novidades para não ficar obsoleto, e sempre apela com aquele quê de “você precisa disso”, usando Jesus como seu garoto-propaganda (Não o Jesus Luz, da Madonna), mas sem nenhum respeito ou reverência que lhe são devidos, a fim de conquistar os corações mais fervorosos e lucrar.
Sempre achei que desde que a discussão sobre a fermentação ou não do pão da Santa Ceia (que foi uma das razões para o Grande Cisma – a separação da Igreja em Católica e Ortodoxa, séculos atrás), esta ordenança teria ficado imune a grandes inovações teológicas e controvérsias. Entretanto, fiquei sabendo hoje que já existem pessoas pregando que a Ceia do Senhor seja abolida, e, lógico, baseando isto na própria Bíblia que nos manda celebrá-la!
Isso me lembrou de que, há algum tempo, ouvi falar de um pastor que acrescentou outros elementos simbólicos à Santa Ceia (que “antigamente” era celebrada com pão e vinho). “Felizmente”, alguns deles não chegaram a ser Fandangos sabor presunto ou Mentos e Coca-Cola. Mas, com que direito se modifica uma celebração que o próprio Jesus instituiu, em que o pão simboliza seu corpo e o vinho seu sangue, e que deveria lembrar-nos de sua morte voluntária para pagar a pena de nossos pecados, ao mesmo tempo que testemunhamos a fé na sua volta até que ela ocorra?
Ainda bem que não tem uma rede de "fast-food" gospel (Pelo menos eu não conheço nenhuma, mas, se houver, não me avisem!). Se não, com certeza, já teríamos notícias de uma “Santa Ceia Drive-Thru” ou de um telefone de encomendas para entrega em domicílio de um “Kit Melq(uesedeque) Super Santa Ceia Feliz”!
Mas é claro, lógico e evidente que um “Kit Melq Super Santa Ceia Feliz” somente teria valor memorial, e “unção”, se fosse ingerido com a família diante de um culto veiculado por uma TV a cabo “gospel”.
Com tantas idéias mirabolantes do meio evangélico, vindas de vários lugares, cada uma mais bizarra que a outra, e na velocidade da luz, a única coisa que me surpreende é que, até agora, não inventaram um concurso de “doutrinas” e “moveres” com premiação, reconhecendo o talento e a criatividade de indivíduos cujo engenho em aproximar a fé e o comércio, seguindo os moveres capitalistas dos “ungidos” desses Brasilzão (e dos States), os quais mexem uns milionésimos de por cento no nosso PIB e deixam, pelo menos, os seus consumidores e o Fisco muito contentes (isso quando não ocorre junto coisas como lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e evasão de divisas...).
Mas eu vou parando por aqui, que eu não quero dar mais idéias (e preciso registrar com a máxima urgência a patente destas antes que alguém o faça).
Fonte: Não Obrigado
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