segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Se…

Se és capaz de manter a tua calma quando,
Todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E, para estes no entanto, achar desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso;
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires;
De sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores;

Se encontrando a Derrota e o Triunfo conseguires,
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
Em armadilhas as verdades que dissestes,
E as coisas, por que destes a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te restastes;

Se és capaz de arriscar numa única parada,
Tudo quanto ganhastes em toda a tua vida,
E perderes e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignando tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
Restares a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste”;

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
E, entre Reis, não perderes a naturalidade,
E de amigos, quer bom, quer maus, te defenderes;
Se a todos puderes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo,
E – o que ainda é muito mais – és um Homem, meu filho!


Autor: Rudyard Kipling
Tradução de Guilherme de Almeida.
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