“A quem falarei e testemunharei, para que ouça? Eis que os seus ouvidos estão incircuncisos, e não podem ouvir; eis que a palavra do SENHOR é para eles coisa vergonhosa, e não gostam dela... Porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à avareza; e desde o profeta até ao sacerdote, cada um usa de falsidade. E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz.” [Jeremias 6: 10, 13-14]
Não estou feliz com o que estou prestes a dizer. Não estou feliz com meus pensamentos e nem com minhas indagações. Não estou feliz com o meu cristianismo e nem com o que tenho vivido e aprendido dos púlpitos, rádios e canais de televisão, mas tenho sido severamente confrontado pela Bíblia e pelo Espírito. Reconheço que, acima de tudo, o problema reside também em mim: falho, pecador e carecedor da graça de Deus que sou. Não passo de uma alma aflita que apenas almeja conhecê-lo como Ele é, em Sua plenitude. Tenho plena consciência de que, ao escrever o presente artigo, fruto de minha consciência para com meu Senhor e Salvador, no coração de muitos irmãos, estarei correndo sério e iminente risco de ser assassinado, entregue a Satanás e às chamas do inferno eterno. Por estar prestes a assinar minha “certidão de óbito espiritual”, não estou feliz, mas apesar de não querer fazê-lo, sinto que é necessário.
Eu amo a Igreja! Aquela que nasceu no coração de Deus, fundada pelo Senhor Jesus Cristo, institucionalizada e difundida pelos apóstolos, descrita no livro de Atos, revelada nas Escrituras! Glória a Deus por ela! Porém minha tristeza deriva do fato de que: A cada dia que se passa, tenho repugnado cada vez mais o evangelicalismo cultural chamado “religião evangélica” que se revela em meio à Igreja Cristã no Brasil de nossos dias. Sinto-me sozinho em meio à multidão, ou como Elias escondido na caverna.
É como se a Palavra de Deus viesse até mim dizendo: JESUS, O CRISTO, FILHO DO DEUS VIVO, NÃO É “EVANGÉLICO”! Essa conclusão literalmente “invade” minha alma, espírito e mente, quando me pego refletindo nos caminhos os quais, como igreja, temos nos proposto a andar. Nos resultados que, como igreja, temos almejado alcançar. No propósito de nossa pregação, no resultado prático de nosso testemunho de vida, e principalmente, nos frutos que temos colhido. A conclusão de que Jesus não é “evangélico” lateja dentro de mim todas as vezes que comparo as Escrituras com minha vida e com o cristianismo que vivemos hoje. Me entristeço ao ver o quão distante estamos da realidade da igreja primitiva de Atos. Aliás, primitivos, somos nós, com mais de 2009 anos de evolução humana computados a nosso favor, todavia, também de declínio espiritual em nosso desfavor.
Esclareço que, quando digo “evangélico”, tenho em mente o indivíduo que, apesar do discurso contrário, tem suas regras de fé e vida fundamentadas, extremamente enraizadas na cultura e religião evangélica, mas superficialmente nas Sagradas Escrituras, a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus. Aquela mesma revelada como fogo e como um martelo que esmiúça pedras (Jeremias 23: 29). Não tenho por “evangélico” aquele que submete sua vida inteiramente à mensagem das Escrituras, que se importa, se preocupa e se interessa em saber porque a Palavra de Deus se revela como fogo e martelo que esmiúça pedras, e não tem o meio em que vive como parâmetros de seu cristianismo. Aqueles que dariam suas vidas por este propósito, e não por aquele, a Bíblia simplesmente os chamou “cristãos”. Também quero seguir o exemplo.
O EVANGELHO NÃO ME DECEPCIONA. Muito pelo contrário: me inspira, me fortalece, me disciplina, me repreende e me faz por os pés no chão. O que me decepciona são os “evangélicos”, principalmente quando não reconhecem que estão tão espiritualmente mortos, e que são tão pecadores quanto o mas vil e depravado indivíduo que possam afastar de sua comunhão. Perdidos que eles afirmam pertencer ao mundo, contudo, se esquecendo de que a igreja também está no mundo, e que este “monstro” também está impregnado em seus corações, hábitos, costumes e gostos...
Como evangélicos, pregamos um dualismo exacerbado ao invés de exaurir sua nossa compaixão. Sim! Me decepciono comigo mesmo, quando me pego fazendo parte disso tudo. Uma corja cega pela religiosidade, endurecida no coração, dirigida por sua própria cobiça e surda para a Palavra de Deus. Creio ser este o sustentáculo do texto bíblico inicialmente citado, onde é o próprio Deus quem desabafa... o profeta Jeremias simplesmente obedece, num contexto bastante semelhante ao nosso.
Fato público e notório é que, hodiernamente, sabemos que (não é preciso ser nenhum teólogo), o que temos por “igreja evangélica”, parece ter se entregue mais à avareza e ao egoísmo do que ao “amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”. Principalmente nos grandes centros urbanos. Na atual cultura evangélica, TUDO tem girado em torno do poder terreno, da conquista, das vitórias, da prosperidade material. Repito: TUDO! Desde o culto e liturgia até os “louvores”, linguagem, comunhão e relacionamentos. A fé tem se tornado motivo de comércio e aferimento de lucros em detrimento do desprendimento das coisas deste mundo, da paz de espírito e coração, do doar ao invés do receber. A igreja evangélica atual mais parece um mero produto do moderno sistema capitalista ditador das relações humanas. Sabe-se muito bem que Jesus se dirige aos seus discípulos, tendo-os como sal da terra, mas quem, de fato, está salgando quem?
“Irmãos, sede meus imitadores, e atentai para aqueles que andam conforme o exemplo que tendes em nós; porque muitos há, dos quais repetidas vezes vos disse, e agora vos digo até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo; cujo fim é a perdição; cujo deus é o ventre; e cuja glória assenta no que é vergonhoso; os quais só cuidam das coisas terrenas. Mas a nossa pátria está nos céus, donde também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o corpo da nossa humilhação, para ser conforme ao corpo da sua glória, segundo o seu eficaz poder de até sujeitar a si todas as coisas.” [Filipenses 3: 17-21]
Diligentemente, Paulo nos alerta sobre “os quais só cuidam das coisas terrenas”, aqueles “cujo deus é o ventre”. Sei que não sou o dono da verdade, estou sujeito a erros, mas confesso não conseguir enxergar de outra forma o egoísmo e a avareza presentes nos cultos evangélicos e todoo “mover de Deus” de nossos dias. Nossa busca por boa vida terrena em detrimento da Bíblia e o melhor de Deus instantâneo sem necessidade de arrependimento.
O que são coisas terrenas senão tudo aquilo que já almejamos como criaturas caídas e carnais? Prosperidade financeira, saúde, bons relacionamentos, status, poder e influência política e uma toda uma vida “mar de rosas”....nada disso é espiritual! Não é preciso ser crente para desejar essas coisas! Se não temos tido nosso próprio ventre como “deus”, por que insistimos tanto na edificação de templos gloriosos, “palácios”, reinos e impérios pessoais, algo que a Bíblia jamais nos mandou fazer? Entesouramos para nós mesmos! O trabalho social, na grande maioria das igrejas evangélicas, é praticamente zero! Não nos importamos nem mesmo com a população carente, marginalizada, que “sobrevive” nas periferias e favelas de nossos próprios municípios, quanto mais com a fome aguda, os altos índices de morte por inanição e AIDS na África do Sul. Mas, nós certamente comeremos o melhor desta terra, não é mesmo? Trabalhos sociais e missões não são lucrativos para nós, por isso nós os negligenciamos.
Por que, ao invés de ministrar a nós mesmos em reclusão dentro de nossos “palácios”, não rompemos com a cultura igrejeira egoísta e hipócrita e nos mobilizamos para ser sal fora de nossos saleiros? Nem sequer nos importamos se o IDE virou VENHA, e se o amar virou “receba”....poucos se importam...os que sabem fazem vista grossa, se acomodaram...TEMOS O DISCURSO DE PEDRO, MAS ATITUDES DE “JOVENS RICOS” E “FILHOS PRÓDIGOS”.
Certamente, os apóstolos, profetas e pregadores capitalistas, americanos e brasileiros não se interessam muito em visitar alguns países pobres do continente africano, Ásia ou em pregar no agreste nordestino ou algumas cidades subdesenvolvidas no Brasil com a mensagem da prosperidade. Se tentassem recolher uma boa oferta entre eles, certamente se frustrariam... Porque os operadores de milagres não se dispõem a curar cancerosos nos hospitais públicos e casas de recuperação como a famosa Colônia Santa Marta que abriga pessoas acometidas de hanseníase e outras semelhantes? Me parece que a oferta destes também não seria muito boa. Nos palácios, a “glória” de Deus é maior, não é mesmo?
Infelizmente, preciso concordar com Paulo. Somos egoístas e avarentos. Queremos ser “pai de multidões” porque nosso foco está nas multidões, e não no indivíduo. No nosso ajuntamento egoísta, e não na simplicidade do ser onde cada um é único para Deus. Todavia, enquanto nosso foco está na multidão, Jesus fugia dela e focava no indíviduo. Jesus sempre soube que a multidão é interesseira, mas nós é que temos interesse nela (João 6: 26-27). Transformamos nossos cultos a Deus em “numerolatria”, neurose por crescimento A QUALQUER CUSTO.....Quantos se lembram do desenho animado da Warner Bros chamado Pink e Cérebro? A liderança evangélica de nossos dias padece da síndrome de “pink e cérebro”, pois profetizamos que vamos “conquistar o mundo!”, e se preciso for, temos diversas estratégias tais como: derramar óleo de helicópteros e urinar na cidade toda sob a “unção” do leão. Mas como eles, sempre entendemos tudo errado...nossas estratégias também precisam ser revistas...
NOSSO "EVANGELHO" NÃO MAIS EVANGELIZA! Não queremos carregar a nossa própria cruz! Nosso evangelho não fala da ira de Deus, da condenação do inferno, de temor e arrependimento....no nosso evangelho não há cruz! O que temos sido, senão inimigos da cruz de Cristo, se fugimos dela negando o arrependimento e trocando-a por “toda sorte de bençãos materiais nas regiões evangelicais em Cristo Jesus”?!?!? No pseudo-evangelho, não é necessário arrependimento e muito menos conversão......bastam nossas campanhas, mandingas, fetiches e atos proféticos, pois descobrimos que podemos “decretar” nossas bençãos e “chamar à existência” tudo o que precisamos e amarrar todo o mal. Deus! Quanta presunção a nossa! Quem somos nós para determinar ou arbitrar, por decreto, o que Deus deve ou não fazer? Que poder temos nós para chamar a existência frutos da nossa própria cobiça? Me recuso a orar assim! Se é que somos “deuses” e tais poderes nos foram “outorgados”, porque não chamamos à existência nosso arrependimento genuíno a fim de extirpar todo pecado logo de uma vez?!? (Lamentações 3: 39) Sou ministro de louvor e não conheço nenhum cântico evangélico que versa sobre arrependimento, mas muitas sobre “o melhor de Deus”. Nos entretemos DIARIAMENTE com fábulas ao invés de pregar a mensagem da cruz de Cristo...
João Batista pregou arrependimento (Lucas 3: 2, 3, 7, 8, 18), Pedro pregou arrependimento (Atos 2: 36-41), Paulo pregou arrependimento (Atos 17: 29-31), o próprio Senhor Jesus pregou arrependimento (Marcos 1: 14, 15), e nós, o que temos pregado e cantado:
“E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz.” [Jeremias 6:14]
SEM ARREPENDIMENTO, não há caráter, não há moral, não há sal, não há luz, não há mudança, não há perdão, não há benção, não há paz, não há restauração, não há compaixão, não há misericórdia, não há graça, não há unção, não há santidade, não há fé, não há fogo, não há testemunho de vida, não há conversão, não há conquistas, não há louvor, não há adoração, não há glória de Deus, NÃO HÁ SALVAÇÃO...tudo não passa das folhas da figueira amaldiçoada por Jesus (nunca mais nasça fruto de ti!), a superficialidade da religião que parece ser boa, que promete resolver seus problemas terrenos, desde que você seja fiel nas contribuições....A figueira tem folhas verdes, mas não os frutos que interessam para Jesus. ESSE NÃO É O EVANGELHO DE JESUS CRISTO.
"Se eu perguntar se você esta noite está salvo? Você diz: ‘Sim, estou salvo'. Quando? “Oh, fulano de tal pregou, e eu fui batizado e... “... Você está salvo? Do que você está salvo? Do Inferno? Você está salvo da amargura? Você está salvo da luxúria? Você está salvo da trapaça? Você está salvo da mentira? Você está salvo dos maus costumes? Você está salvo da rebelião contra seus pais? Vamos lá, do que você está salvo?” [Leonard Ravenhill]
Nós “evangélicos” estamos realmente “saqueando o inferno”? Estamos realmente sendo salvos e mostrando salvação se negamos que o caminho e a porta para a vida eterna são estreitos (Mateus 7:13-14)? Estamos realmente sendo salvos com nossas festas e mega-shows gospel os quais nos orgulhamos tanto? Enquanto muitos enfrentam dificuldades financeiras, fome, descriminações, humilhações, perigo e decepções dentro de suas próprias instituições, há aqueles auto-denominados “apóstolos” e “levitas”, que se locupletam às suas custas, dirigindo carrões, viajando o mundo e habitando mansões. Sem falar naqueles que (casos goianos), se pudessem, “humildemente” ostentariam estátuas de sua própria pessoa em praças públicas da capital, em lugar de monumentos históricos. Outros fazem questão de postar enormes outdoors com fotos suas nas fachadas de suas igrejas....Com certeza, as igrejas são deles, e não de Cristo. Estes também não passam de “evangélicos”...
"Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?" [Mateus 7:16]
OBS: “Frutos” não são multidões de pessoas nas igrejas, e que supostamente se convertem por nosso "intermédio".
Se Jesus Cristo estivesse hoje, encarnado entre nós, compartilhando de nossa cultura “evangélica” atual, provavelmente Ele: não faria acepção de pessoas em nossos mega-shows gospel, não compraria nossos CD´s e DVD´s (provavelmente os quebraria), não adulteraria a Palavra de Deus, não se candidataria à política, não faria estátuas-ídolo de si mesmo, não falaria “evangeliquês”, não excluiria tatuados, prostitutas, travestis, mendigos, pecadores e homossexuais arrependidos como nós fazemos, não proibiria ninguém de participar da ceia, não ministraria “Restitui, eu quero de volta o que é meu”, não nos cobraria dízimos e ofertas segundo a lei mosaica, não pregaria numerologia e nem prosperidade terrena e nem “fé na fé”, não transformaria púlpitos em palco, teria compaixão pelos pobres, famintos e enfermos na África e demais países subdesenvolvidos, não entraria nos nossos palácios pois preferiria ser adorado “em espírito e em verdade”, não se submeteria à corrida por multidões, não esconderia dólares em sua Bíblia, não participaria de nossas pirâmides, shows da fé e escândalos, não oprimiria os cansados e sobrecarregados em prol de Seu Reino (pois Seu fardo é leve e seu jugo é suave), não ensinaria que o Reino de Deus é a igreja, passaria seu tempo com a escória que nós segregamos, não venderia suas bençãos e curas, óleos, rosas ungidas, tours à Israel, nem curso-relâmpago de “pastor” pela Internet, nos mandaria trabalhar pelo sustento e nos daria o exemplo, nos mandaria repartir nossas riquezas com os pobres, não seria milionário como alguns “apóstolos” da prosperidade, não mentiria para seus discípulos, não teria duas palavras, não os caluniaria ou os roubaria pelas costas como se isso fosse normal, não os mediria pela aparência, mas pelo coração. E tudo isso, requerendo apenas arrependimento, dizendo:
"Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios. Porque eu não vim chamar justos, mas pecadores." [Mateus 9: 13]
Entendemos tudo errado, não é mesmo? Oferecemos tantos sacrifícios espirituais mais ainda não entendemos o que é misericórdia... Confesso que me incluo no rol dos culpados, e que me machuco a cada dia tentando entender os porquês disso tudo, mas ainda não consegui, estou quase desistindo de tentar. Confesso que não quero mais fingir que a igreja evangélica está bem e que me orgulho de ser “evangélico”.
Me sentirei honrado sim se, algum dia, mesmo em meio a tanta distorção religiosa e tanta guerra humana e espiritual, eu for encontrado fiel, achado por Ele, conhecido por Ele, amado por Ele, como um verdadeiro “pequeno cristo”, cristão, puro e simples. Não precisaria de mais nada para me sentir realizado em Deus. Na contramão do mundo e do sistema religioso apóstata, eu quero um dia é ser cristão.
Fonte: Rafael Augusto Teles em Cristianismo Consciente
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Não estou feliz com o que estou prestes a dizer. Não estou feliz com meus pensamentos e nem com minhas indagações. Não estou feliz com o meu cristianismo e nem com o que tenho vivido e aprendido dos púlpitos, rádios e canais de televisão, mas tenho sido severamente confrontado pela Bíblia e pelo Espírito. Reconheço que, acima de tudo, o problema reside também em mim: falho, pecador e carecedor da graça de Deus que sou. Não passo de uma alma aflita que apenas almeja conhecê-lo como Ele é, em Sua plenitude. Tenho plena consciência de que, ao escrever o presente artigo, fruto de minha consciência para com meu Senhor e Salvador, no coração de muitos irmãos, estarei correndo sério e iminente risco de ser assassinado, entregue a Satanás e às chamas do inferno eterno. Por estar prestes a assinar minha “certidão de óbito espiritual”, não estou feliz, mas apesar de não querer fazê-lo, sinto que é necessário.
Eu amo a Igreja! Aquela que nasceu no coração de Deus, fundada pelo Senhor Jesus Cristo, institucionalizada e difundida pelos apóstolos, descrita no livro de Atos, revelada nas Escrituras! Glória a Deus por ela! Porém minha tristeza deriva do fato de que: A cada dia que se passa, tenho repugnado cada vez mais o evangelicalismo cultural chamado “religião evangélica” que se revela em meio à Igreja Cristã no Brasil de nossos dias. Sinto-me sozinho em meio à multidão, ou como Elias escondido na caverna.
É como se a Palavra de Deus viesse até mim dizendo: JESUS, O CRISTO, FILHO DO DEUS VIVO, NÃO É “EVANGÉLICO”! Essa conclusão literalmente “invade” minha alma, espírito e mente, quando me pego refletindo nos caminhos os quais, como igreja, temos nos proposto a andar. Nos resultados que, como igreja, temos almejado alcançar. No propósito de nossa pregação, no resultado prático de nosso testemunho de vida, e principalmente, nos frutos que temos colhido. A conclusão de que Jesus não é “evangélico” lateja dentro de mim todas as vezes que comparo as Escrituras com minha vida e com o cristianismo que vivemos hoje. Me entristeço ao ver o quão distante estamos da realidade da igreja primitiva de Atos. Aliás, primitivos, somos nós, com mais de 2009 anos de evolução humana computados a nosso favor, todavia, também de declínio espiritual em nosso desfavor.
Esclareço que, quando digo “evangélico”, tenho em mente o indivíduo que, apesar do discurso contrário, tem suas regras de fé e vida fundamentadas, extremamente enraizadas na cultura e religião evangélica, mas superficialmente nas Sagradas Escrituras, a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus. Aquela mesma revelada como fogo e como um martelo que esmiúça pedras (Jeremias 23: 29). Não tenho por “evangélico” aquele que submete sua vida inteiramente à mensagem das Escrituras, que se importa, se preocupa e se interessa em saber porque a Palavra de Deus se revela como fogo e martelo que esmiúça pedras, e não tem o meio em que vive como parâmetros de seu cristianismo. Aqueles que dariam suas vidas por este propósito, e não por aquele, a Bíblia simplesmente os chamou “cristãos”. Também quero seguir o exemplo.
O EVANGELHO NÃO ME DECEPCIONA. Muito pelo contrário: me inspira, me fortalece, me disciplina, me repreende e me faz por os pés no chão. O que me decepciona são os “evangélicos”, principalmente quando não reconhecem que estão tão espiritualmente mortos, e que são tão pecadores quanto o mas vil e depravado indivíduo que possam afastar de sua comunhão. Perdidos que eles afirmam pertencer ao mundo, contudo, se esquecendo de que a igreja também está no mundo, e que este “monstro” também está impregnado em seus corações, hábitos, costumes e gostos...
Como evangélicos, pregamos um dualismo exacerbado ao invés de exaurir sua nossa compaixão. Sim! Me decepciono comigo mesmo, quando me pego fazendo parte disso tudo. Uma corja cega pela religiosidade, endurecida no coração, dirigida por sua própria cobiça e surda para a Palavra de Deus. Creio ser este o sustentáculo do texto bíblico inicialmente citado, onde é o próprio Deus quem desabafa... o profeta Jeremias simplesmente obedece, num contexto bastante semelhante ao nosso.
Fato público e notório é que, hodiernamente, sabemos que (não é preciso ser nenhum teólogo), o que temos por “igreja evangélica”, parece ter se entregue mais à avareza e ao egoísmo do que ao “amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”. Principalmente nos grandes centros urbanos. Na atual cultura evangélica, TUDO tem girado em torno do poder terreno, da conquista, das vitórias, da prosperidade material. Repito: TUDO! Desde o culto e liturgia até os “louvores”, linguagem, comunhão e relacionamentos. A fé tem se tornado motivo de comércio e aferimento de lucros em detrimento do desprendimento das coisas deste mundo, da paz de espírito e coração, do doar ao invés do receber. A igreja evangélica atual mais parece um mero produto do moderno sistema capitalista ditador das relações humanas. Sabe-se muito bem que Jesus se dirige aos seus discípulos, tendo-os como sal da terra, mas quem, de fato, está salgando quem?
“Irmãos, sede meus imitadores, e atentai para aqueles que andam conforme o exemplo que tendes em nós; porque muitos há, dos quais repetidas vezes vos disse, e agora vos digo até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo; cujo fim é a perdição; cujo deus é o ventre; e cuja glória assenta no que é vergonhoso; os quais só cuidam das coisas terrenas. Mas a nossa pátria está nos céus, donde também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o corpo da nossa humilhação, para ser conforme ao corpo da sua glória, segundo o seu eficaz poder de até sujeitar a si todas as coisas.” [Filipenses 3: 17-21]
Diligentemente, Paulo nos alerta sobre “os quais só cuidam das coisas terrenas”, aqueles “cujo deus é o ventre”. Sei que não sou o dono da verdade, estou sujeito a erros, mas confesso não conseguir enxergar de outra forma o egoísmo e a avareza presentes nos cultos evangélicos e todoo “mover de Deus” de nossos dias. Nossa busca por boa vida terrena em detrimento da Bíblia e o melhor de Deus instantâneo sem necessidade de arrependimento.
O que são coisas terrenas senão tudo aquilo que já almejamos como criaturas caídas e carnais? Prosperidade financeira, saúde, bons relacionamentos, status, poder e influência política e uma toda uma vida “mar de rosas”....nada disso é espiritual! Não é preciso ser crente para desejar essas coisas! Se não temos tido nosso próprio ventre como “deus”, por que insistimos tanto na edificação de templos gloriosos, “palácios”, reinos e impérios pessoais, algo que a Bíblia jamais nos mandou fazer? Entesouramos para nós mesmos! O trabalho social, na grande maioria das igrejas evangélicas, é praticamente zero! Não nos importamos nem mesmo com a população carente, marginalizada, que “sobrevive” nas periferias e favelas de nossos próprios municípios, quanto mais com a fome aguda, os altos índices de morte por inanição e AIDS na África do Sul. Mas, nós certamente comeremos o melhor desta terra, não é mesmo? Trabalhos sociais e missões não são lucrativos para nós, por isso nós os negligenciamos.
Por que, ao invés de ministrar a nós mesmos em reclusão dentro de nossos “palácios”, não rompemos com a cultura igrejeira egoísta e hipócrita e nos mobilizamos para ser sal fora de nossos saleiros? Nem sequer nos importamos se o IDE virou VENHA, e se o amar virou “receba”....poucos se importam...os que sabem fazem vista grossa, se acomodaram...TEMOS O DISCURSO DE PEDRO, MAS ATITUDES DE “JOVENS RICOS” E “FILHOS PRÓDIGOS”.
Certamente, os apóstolos, profetas e pregadores capitalistas, americanos e brasileiros não se interessam muito em visitar alguns países pobres do continente africano, Ásia ou em pregar no agreste nordestino ou algumas cidades subdesenvolvidas no Brasil com a mensagem da prosperidade. Se tentassem recolher uma boa oferta entre eles, certamente se frustrariam... Porque os operadores de milagres não se dispõem a curar cancerosos nos hospitais públicos e casas de recuperação como a famosa Colônia Santa Marta que abriga pessoas acometidas de hanseníase e outras semelhantes? Me parece que a oferta destes também não seria muito boa. Nos palácios, a “glória” de Deus é maior, não é mesmo?
Infelizmente, preciso concordar com Paulo. Somos egoístas e avarentos. Queremos ser “pai de multidões” porque nosso foco está nas multidões, e não no indivíduo. No nosso ajuntamento egoísta, e não na simplicidade do ser onde cada um é único para Deus. Todavia, enquanto nosso foco está na multidão, Jesus fugia dela e focava no indíviduo. Jesus sempre soube que a multidão é interesseira, mas nós é que temos interesse nela (João 6: 26-27). Transformamos nossos cultos a Deus em “numerolatria”, neurose por crescimento A QUALQUER CUSTO.....Quantos se lembram do desenho animado da Warner Bros chamado Pink e Cérebro? A liderança evangélica de nossos dias padece da síndrome de “pink e cérebro”, pois profetizamos que vamos “conquistar o mundo!”, e se preciso for, temos diversas estratégias tais como: derramar óleo de helicópteros e urinar na cidade toda sob a “unção” do leão. Mas como eles, sempre entendemos tudo errado...nossas estratégias também precisam ser revistas...
NOSSO "EVANGELHO" NÃO MAIS EVANGELIZA! Não queremos carregar a nossa própria cruz! Nosso evangelho não fala da ira de Deus, da condenação do inferno, de temor e arrependimento....no nosso evangelho não há cruz! O que temos sido, senão inimigos da cruz de Cristo, se fugimos dela negando o arrependimento e trocando-a por “toda sorte de bençãos materiais nas regiões evangelicais em Cristo Jesus”?!?!? No pseudo-evangelho, não é necessário arrependimento e muito menos conversão......bastam nossas campanhas, mandingas, fetiches e atos proféticos, pois descobrimos que podemos “decretar” nossas bençãos e “chamar à existência” tudo o que precisamos e amarrar todo o mal. Deus! Quanta presunção a nossa! Quem somos nós para determinar ou arbitrar, por decreto, o que Deus deve ou não fazer? Que poder temos nós para chamar a existência frutos da nossa própria cobiça? Me recuso a orar assim! Se é que somos “deuses” e tais poderes nos foram “outorgados”, porque não chamamos à existência nosso arrependimento genuíno a fim de extirpar todo pecado logo de uma vez?!? (Lamentações 3: 39) Sou ministro de louvor e não conheço nenhum cântico evangélico que versa sobre arrependimento, mas muitas sobre “o melhor de Deus”. Nos entretemos DIARIAMENTE com fábulas ao invés de pregar a mensagem da cruz de Cristo...
João Batista pregou arrependimento (Lucas 3: 2, 3, 7, 8, 18), Pedro pregou arrependimento (Atos 2: 36-41), Paulo pregou arrependimento (Atos 17: 29-31), o próprio Senhor Jesus pregou arrependimento (Marcos 1: 14, 15), e nós, o que temos pregado e cantado:
“E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz.” [Jeremias 6:14]
SEM ARREPENDIMENTO, não há caráter, não há moral, não há sal, não há luz, não há mudança, não há perdão, não há benção, não há paz, não há restauração, não há compaixão, não há misericórdia, não há graça, não há unção, não há santidade, não há fé, não há fogo, não há testemunho de vida, não há conversão, não há conquistas, não há louvor, não há adoração, não há glória de Deus, NÃO HÁ SALVAÇÃO...tudo não passa das folhas da figueira amaldiçoada por Jesus (nunca mais nasça fruto de ti!), a superficialidade da religião que parece ser boa, que promete resolver seus problemas terrenos, desde que você seja fiel nas contribuições....A figueira tem folhas verdes, mas não os frutos que interessam para Jesus. ESSE NÃO É O EVANGELHO DE JESUS CRISTO.
"Se eu perguntar se você esta noite está salvo? Você diz: ‘Sim, estou salvo'. Quando? “Oh, fulano de tal pregou, e eu fui batizado e... “... Você está salvo? Do que você está salvo? Do Inferno? Você está salvo da amargura? Você está salvo da luxúria? Você está salvo da trapaça? Você está salvo da mentira? Você está salvo dos maus costumes? Você está salvo da rebelião contra seus pais? Vamos lá, do que você está salvo?” [Leonard Ravenhill]
Nós “evangélicos” estamos realmente “saqueando o inferno”? Estamos realmente sendo salvos e mostrando salvação se negamos que o caminho e a porta para a vida eterna são estreitos (Mateus 7:13-14)? Estamos realmente sendo salvos com nossas festas e mega-shows gospel os quais nos orgulhamos tanto? Enquanto muitos enfrentam dificuldades financeiras, fome, descriminações, humilhações, perigo e decepções dentro de suas próprias instituições, há aqueles auto-denominados “apóstolos” e “levitas”, que se locupletam às suas custas, dirigindo carrões, viajando o mundo e habitando mansões. Sem falar naqueles que (casos goianos), se pudessem, “humildemente” ostentariam estátuas de sua própria pessoa em praças públicas da capital, em lugar de monumentos históricos. Outros fazem questão de postar enormes outdoors com fotos suas nas fachadas de suas igrejas....Com certeza, as igrejas são deles, e não de Cristo. Estes também não passam de “evangélicos”...
"Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?" [Mateus 7:16]
OBS: “Frutos” não são multidões de pessoas nas igrejas, e que supostamente se convertem por nosso "intermédio".
Se Jesus Cristo estivesse hoje, encarnado entre nós, compartilhando de nossa cultura “evangélica” atual, provavelmente Ele: não faria acepção de pessoas em nossos mega-shows gospel, não compraria nossos CD´s e DVD´s (provavelmente os quebraria), não adulteraria a Palavra de Deus, não se candidataria à política, não faria estátuas-ídolo de si mesmo, não falaria “evangeliquês”, não excluiria tatuados, prostitutas, travestis, mendigos, pecadores e homossexuais arrependidos como nós fazemos, não proibiria ninguém de participar da ceia, não ministraria “Restitui, eu quero de volta o que é meu”, não nos cobraria dízimos e ofertas segundo a lei mosaica, não pregaria numerologia e nem prosperidade terrena e nem “fé na fé”, não transformaria púlpitos em palco, teria compaixão pelos pobres, famintos e enfermos na África e demais países subdesenvolvidos, não entraria nos nossos palácios pois preferiria ser adorado “em espírito e em verdade”, não se submeteria à corrida por multidões, não esconderia dólares em sua Bíblia, não participaria de nossas pirâmides, shows da fé e escândalos, não oprimiria os cansados e sobrecarregados em prol de Seu Reino (pois Seu fardo é leve e seu jugo é suave), não ensinaria que o Reino de Deus é a igreja, passaria seu tempo com a escória que nós segregamos, não venderia suas bençãos e curas, óleos, rosas ungidas, tours à Israel, nem curso-relâmpago de “pastor” pela Internet, nos mandaria trabalhar pelo sustento e nos daria o exemplo, nos mandaria repartir nossas riquezas com os pobres, não seria milionário como alguns “apóstolos” da prosperidade, não mentiria para seus discípulos, não teria duas palavras, não os caluniaria ou os roubaria pelas costas como se isso fosse normal, não os mediria pela aparência, mas pelo coração. E tudo isso, requerendo apenas arrependimento, dizendo:
"Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios. Porque eu não vim chamar justos, mas pecadores." [Mateus 9: 13]
Entendemos tudo errado, não é mesmo? Oferecemos tantos sacrifícios espirituais mais ainda não entendemos o que é misericórdia... Confesso que me incluo no rol dos culpados, e que me machuco a cada dia tentando entender os porquês disso tudo, mas ainda não consegui, estou quase desistindo de tentar. Confesso que não quero mais fingir que a igreja evangélica está bem e que me orgulho de ser “evangélico”.
Me sentirei honrado sim se, algum dia, mesmo em meio a tanta distorção religiosa e tanta guerra humana e espiritual, eu for encontrado fiel, achado por Ele, conhecido por Ele, amado por Ele, como um verdadeiro “pequeno cristo”, cristão, puro e simples. Não precisaria de mais nada para me sentir realizado em Deus. Na contramão do mundo e do sistema religioso apóstata, eu quero um dia é ser cristão.
Fonte: Rafael Augusto Teles em Cristianismo Consciente
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