domingo, 9 de janeiro de 2011

Gestão Empresarial das Igrejas: Benção ou Maldição?

Presbíteros e diáconos viraram diretores; pastores titulares viraram verdadeiros CEO's (sigla da expressão inglesa Chief Executive Officer que designa o mais alto cargo executivo de uma organização) e as igrejas brasileiras históricas cada vez mais estão se rendendo a mais um modelo importado, ao lado da euforia do G-12 (que, no entanto, e graças a Deus, não tem infestado muitas instituições sérias).

Trata-se da administração empresarial das organizações religiosas, a qual utiliza das mais variadas técnicas de administração e marketing, trazidas das grandes corporações diretamente para dentro das igrejas. A novidade, também chamada de "igreja ao gosto do freguês" ou "igreja do novo paradigma" ou ainda, em inglês, "seeker sensitive", é capitaneada, dentre outros, pelos fenômenos estadunidenses Bill Hybels e Rick Warren, das famosas Willow Creek Church e Saddleback Church, os quais contam como principais pupilos no Brasil, respectivamente, Armando Bispo e Carlito Paes. A princípio parece uma grande sacada, mas o que há por dentro e por fora desse estilo que hostenta uma faceta de vanguardismo e brilhantismo?

Por um lado temos uma igreja pujante, cheia de pessoas instadas ao "voluntariado" e à "liderança", conceito amplamente difundido pelo movimento, fato que gera uma comunidade em contínuo crescimento e, portanto, tornando-se viva em todos os segmentos e fortemente inserida no contexto social da região em que está situada. Maravilha!

No entanto, cresce e reúne pessoas advindas de todas as raízes religiosas... aí é onde reside o grande problema! A fixação por "liderança", "voluntariado" e "crescimento", além de provocar uma recorrente, tensa e demoníaca briga por poder(assim como nas empresas), deixa em segundo plano o emblemático mandamento de Jesus para sua igreja: "ide e fazei DISCÍPULOS", isso em uma comunidade que cresce para todos os lados, gera uma massa de pessoas totalmente carentes de um discipulado efetivo, tornando a igreja uma verdadeira Babel! Pastores-CEO's passam a dar mais importância a reuniões e planejamentos, que ao valoroso ofício pastoral propriamente dito, que inclui não só presença no "show dominical", mas também ensino bíblico, aconselhamento, presença na vida dos membros...

Apesar de manterem, a partir de seus líderes e de suas confissões de fé, a sã doutrina, essas igrejas vêem-se reféns de heresias que circulam por todos os lados, visto que seus membros não são doutrinados de forma eficiente, logo, causando sérios riscos à manutenção do entendimento correto do Evangelho no corpo como um todo, sendo, com o passar do tempo, minoria os que seguem a sã doutrina. Logo, esse modelo precisa urgentemente ser repensado e adaptado, sendo preciso até, abdicar de algumas de suas supostas conquistas, em prol de um bem maior, quiçá único: o correto entendimento acerca da Palavra de Deus. Ora, o próprio Hybels, vislumbrando o problema escreveu "Quando a liderança e o discipulado entram em conflito", veja bem, Dr Hybels, quando algo entra em conflito com um mandamento de Jesus("ide e fazei DISCÍPULOS), deve ser excluído e não idolatrado!

Ao passo que concluo esse artigo, o som de J Neto cantando um clássico da atualmente esquecida Harpa Cristã, "A Mensagem da Cruz", me faz indagar: será que não estamos querendo enfeitar demais um bolo que já é delicioso por si mesmo (ela, a mensagem da cruz)? Temos que ter cuidado para os muitos confeitos não deixá-lo doce demais e, portanto, enjoativo! Sem nos esquecer, também, dos graves riscos da abundância de fermento! Pensemos nisso e quem sabe David Quinlan possa nos ajudar a cantarmos juntos com os irmãos totalmente convictos desse "novo paradigma": "Estou voltando à essência da adoração, e a essência és Tu, a essência és Tu Jesus"...

Termino esperando, orando e ansiando por uma igreja que inove, mas não abra mão das conquistas doutrinárias advindas da Reforma, que nada mais foi que um verdadeiro retorno à essência do cristianismo! Não precisamos de solo marketing ou solus lideris, nos basta sola scriptura, sola gratia, sola fide, solus Christus, soli Deo gloria! Deus queira que os líderes dessa nova onda continuem centrados na Palavra e busquem impor a sã doutrina, a partir do tradicional prestígio que alcançam perante seu público, para que não façam de suas igrejas, igrejas como a de Sardes, conforme nos mostra o livro de Apocalipse: "Isto diz o que tem os sete espíritos de Deus, e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto".


Fonte: Lourenço Neto em Animus Opinandi
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