sexta-feira, 25 de maio de 2012

O amor ao dinheiro é o princípio dos males

“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” – 1 Tm 6.10

Já há meses venho refletindo sobre esse artigo. Não queria escrevê-lo em meio ao descontentamento, ou até mesmo a ira das últimas notícias e dos últimos movimentos vivenciados pelo meio evangélico. É o show do milhão, as especulações políticas, notícias velhas em cenários novos.

Nesse último final de semana visitei minha cidade natal, no interior de São Paulo, depois de dois anos de ausência. Foi incrível ver o quão rápido se movimenta o universo evangélico. Em um espaço de dois anos, muitas igrejas foram abertas em uma pequena cidade.

O que mais me comoveu foi o fato de que o mesmo espírito opera em todo o país. O processo de globalização faz com que as mesmas línguas, costumes e métodos são vigentes em cada canto, ou seja, o movimento evangélico se reflete de forma cultural.

Já há bastante tempo, estou indignado com os vendilhões de bênçãos televisivos ou não, que se utilizam de textos isolados do Evangelho, atingindo a igreja nacional como um câncer em metástase. O grande desafio da igreja nos nossos dias é resistir aos pregadores das meias-verdades.

Difícil entrar no assunto, porém nessa visita que fiz ao interior vivenciei uma experiência que reflete essa realidade. Fui convidado para pregar em um culto familiar. Para mim, parecia uma tarefa simples, porém o que descobri em pouco tempo foi um grupo de mais de setenta pessoas, todos afastados da igreja em decorrência de um único assunto: dízimos e ofertas.

Pessoas que desde crianças frequentaram a igreja, foram ensinadas em todas as doutrinas referentes às mordomias cristãs, porém a queixa de todos caminhava em um só sentido: a indignação com a realidade da igreja. A igreja deixou de ser um local de culto, de adoração e de busca da presença do Senhor. Há uma só linguagem do início ao fim do culto: ofertar, dizimar, semear, vencer, prosperar. Todos os verbos são conjugados no intuito da pessoa. Deus é simplesmente o agente das promoções espirituais.

Recentemente ouvi de um pregador, que diz já estar há 27 anos na tv: “Deus precisa de você, então faça a sua parte, ajude Deus a fazer a Sua obra, pois sem a sua ajuda Deus não pode cumprir a Sua tarefa”. Isso dói nos ouvidos. Temos a impressão de que o Evangelho só funciona dentro da linguagem monetária.

Igrejas se tornaram a casa da moeda espiritual. Com linguagens semelhantes, diversas denominações aplicam os mesmos métodos, ou seja, a garantia da prosperidade – esse é o slogan.

Minha preocupação, depois que retornei do interior, foi porque chegamos a esse patamar. A igreja deixou de ser casa do Senhor, casa de oração, casa onde os aflitos de alma e espírito encontram consolo. Quero deixar claro que concordo com os textos bíblicos referentes à manutenção da casa do Senhor, mas o meu destaque aqui está no sentido de cobrar ética e temor de Deus aos exageros cometidos. Uma igreja não pode viver unicamente em prol da arrecadação e intuitos de fins lucrativos.

Muitas igrejas, sem se perceberem, deixaram de ser casa de oração para se tornarem sociedades anônimas, onde uma mensalidade é cobrada, um estatuto é respeitado, direitos e deveres são aplicados. O melhor exemplo disso é a figura de um clube. Para entendermos a real situação da igreja nos dias de hoje e não sofrermos como muitos vêm sofrendo, vejo a figura de um clube como um bom exemplo.

Mas se quisermos realmente ver a imagem da Igreja que Cristo e os apóstolos pregaram, veremos que muitas igrejas estão muito distantes do propósito de Deus. Um dos pontos centrais disso é a igreja que não pratica a misericórdia, o amor ao próximo e não é vista como a progenitora da justiça e da paz.

Em meio a tantos pontos controversos da sociedade, estamos às vésperas de eleições de suma importância dentro do cenário político brasileiro. A igreja evangélica brasileira, em meio a tudo isso, tem muito pouco a oferecer. Será que poderíamos citar um nome, ou uma igreja realmente representativa hoje no cenário político nacional, em relação à defesa dos direitos humanos?Qual a igreja referência no sentido de Evangelho social ou defesa dos pobres e das viúvas? O que a igreja tem a dizer em referência ao caos vivido pelo sistema carcerário brasileiro?

São esses pontos que ponho em debate quando a ênfase da igreja é a arrecadação de dízimos e ofertas. Até mesmo o apóstolo Paulo foi advertido no sentido de não se esquecer dos órfãos e das viúvas. A igreja se esqueceu dos pobres, basta acompanhar uma dezena de cultos das grandes igrejas brasileiras, e você verá poucos pobres nas fileiras. Hoje a teologia que predomina em muitos púlpitos é a teologia da prosperidade, a teologia que insiste em caminhar no sentido contrário do movimento de Jesus.

A teologia da prosperidade desafia os quatro pilares básicos da igreja cristã: a catolicidade, a apostalicidade, a missão de Deus e a missão da igreja (tratarei disso em outro artigo, devido à amplitude do assunto). Com isso, o que temos é uma igreja muito mais material do que espiritual.

De que adianta um pregador ter um jato de 6 milhões de dólares, se hospedar em hotéis 5 estrelas ao redor do mundo, enquanto a grande maioria dos membros de sua igreja é formada por simples assalariados? Alguma coisa não está certa. A Bíblia alerta, em diferentes passagens, sobre a relação entre vida material e vida espiritual, porém o texto que me chama mais a atenção é quando, nos Evangelhos, Jesus destaca o fato de não ajuntarmos para nós tesouros na terra.

Parece que vivemos o contrário. A fé e a mensagem evangélica parecem só ter sentido, nos dias atuais, quando se trata de prosperidade. Jesus afirma nos Evangelhos que o Filho do homem não tinha nem onde reclinar a cabeça. Palavras como humildade, mansidão, santificação, parecem que perderam o sentido para o contexto evangélico.

Tentei, por muito tempo, participar dos cafés e dos encontros de pastores promovidos por algumas autoridades evangélicas, porém o assunto é sempre o mesmo, prosperidade, poder e o grande slogan que há décadas é empunhado por esses pastores: o Brasil será do Senhor Jesus.

Gostaria de citar aqui, simplesmente como uma provocação, que muitos pesquisassem os trabalhos realizados pelo Prof. Dr. Paul Freston. Esse nome, com certeza, é desconhecido no meio evangélico, mas esse pesquisador tem trabalhos relevantes nessa área.

É uma pena que a igreja evangélica esteja totalmente destituída da busca da mente de Cristo. Desafio a igreja a buscar o caminho de volta ao Evangelho puro e simples, onde a justiça, a paz e o amor ao próximo estão no foco. Prosperidade, segundo Jesus, vem após a busca pela justiça. São acréscimos, e não a essência da igreja. Devemos levar nossas igrejas à busca constante das essências do Evangelho. Devemos, sem medo de provocar os grandes ungidos, os santos apóstolos da modernidade, poisn a Palavra de Deus, em um simples versículo da Bíblia, Jesus diz que é bem melhor amarrar uma pedra no pescoço e se atirar ao mar do que fazer alguém se desviar do Evangelho (Mt 18.6, Mc 9.42, Lc 17.2).

Precisamos voltar ao temor de Deus, pois o temor é o princípio de toda a sabedoria (Sl 111.10).



Fonte: As Pedras Clamam
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