domingo, 6 de maio de 2012

Jogador Elano atribui a Deus nova fase de conquistas profissionais e pessoais

Fim de jogo no Morumbi. Santos vence o São Paulo, por 3 a 1, e está na final do Paulistão. Festa no gramado. Jogadores se abraçam, rodam as camisas, saúdam a torcida... Nem todos. Onde está Elano? O apito do árbitro no clássico soou como aviso de vida nova para o meia. Ninguém viu, mas enquanto Neymar, Ganso e os outros alvinegros comemoravam, Elano chorava feito criança, escondido num banheiro do vestiário.

A boa atuação, de novo entre os titulares, fez o jogador se lembrar dos momentos difíceis e desabar. No caminho do gramado para o vestiário, Elano já estava aos prantos, a ponto de o quarto árbitro perguntar se estava tudo bem. A volta por cima é resultado de esforço prometido à esposa e às filhas no primeiro dia de 2012, horas depois dos fogos de artifício da virada do ano, no Rio de Janeiro.

- Olhei pra elas e disse: 'Esse ano o papai vai voltar a ser o que era e ter um novo ritmo de vida'. Descartei muita coisa. Minha alimentação, minhas voltinhas e, desde então, não coloco bebida alcoólica na boca. Não tomo mais minha cervejinha.

Em paz, o meia abriu as portas de seu refúgio em Limeira, interior de São Paulo, para o GLOBOESPORTE.COM. Franco, admitiu ter passado pelo pior momento da carreira nos últimos meses, fruto de lesões e confusões extracampo, como o namoro com a atriz Nívea Stelmann, que terminou num processo judicial encerrado no mês passado. Tudo culminou na ida para o banco de reservas, o que causava dúvida na cabeça das pequenas Maria Tereza (cinco anos) e Maria Clara (três). Acostumadas a ver o pai com a camisa 8, sempre entre os titulares, elas não entendiam porque ele não estava iniciando as partidas.

- Elas perguntavam: 'Papai, por que você não jogou? Por que você estava com a camisa 16?' Isso me deixava muito ferido.

Sobre a questão envolvendo Nivea Stelmann, Elano demonstra serenidade. Sem tocar no nome da atriz, diz apenas que o fim do processo é um alívio.

- Isso nunca me preocupou. Não sou amigo de ninguém e nem devo nada. Devo a Deus e ao Santos, que é quem me paga. Isso sim me preocupava. Se acabou é sinal de que estou no caminho certo.

Em busca do quinto título pelo Santos (já conquistou um Paulista, dois Brasileiros e uma Taça Libertadores), Elano, que ganhou na Seleção Brasileira as Copas América e das Confederações, garante: a sensação de vitória após a semifinal de domingo foi a conquista mais saborosa e importante da carreira.

A casa no interior tem participação na virada. É lá que o meia se concentra, se tranquiliza, mentaliza os próximos adversários e o que pode fazer em campo. Tudo ao som da viola capiria e embalado pelas brincadeiras com as filhas, sinuca e jogos de cartas com a esposa e os amigos.

O cenário molda a confiança de Elano, em nível impressionante. Dias antes da final, ele assegura que vai cumprir todo seu contrato com o Santos (até o fim de 2013) em alto nível e, questionado sobre Seleção, não titubeou:

- Quero voltar porque tenho condições de estar lá. Sou orgulhoso em relação a isso e essa nova fase é fruto da minha teimosia e persistência, que voltaram com tudo.

No período de recuperação, o santista aderiu ao futevôlei. Guiado pela dupla Belo e Vinícius, jogava até à noite para fortalecer as pernas e render mais nos treinamentos. A fé também foi protagonista. Elano se aproximou de padres e pastores e pensa em comprar uma casa em Cachoeira Paulista, sede da Canção Nova, comunidade católica fundada em 1978 que cresceu a ponto de ter voz no rádio e na televisão.

- Chorei muito, me emocionei no domingo porque foi como se Deus estivesse preparando coisas boas para mim e, naquele momento, dissesse: “Toma, meu filho. Sua entrega foi recompensada”. Nenhum jogador viu. Foi uma vitória pessoal, o título mais gostoso da minha vida.


Fonte: Globo Esporte
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