quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Oração como poder

Acabo de acessar a rede de televisão estadunidense MSNBC. Estupefato, ouço que o psicólogo-pedagogo James Dobson, ultraconservador líder da direita evangélica, convocou uma reunião de oração para pedir que um temporal estragasse o discurso de Barack Obama (o tiro saiu pela culatra, um furacão quase acabou com a convenção dos Republicanos).

A neopentecostal Valnice Milhomens, precursora da teologia da prosperidade no Brasil, afirmou que Fernando Collor de Melo foi gerado pela oração, "no colo dos evangélicos". Segundo ela, quando Collor enfrentou Luis Inácio Lula da Silva, os crentes lhe deram a vitória.

Max Lucado ressoou a enorme maioria evangélica que apoiou a invasão e guerra do Iraque. Em um “prayer breakfast” com George W. Bush, pastores de várias denominações abençoaram as tropas que avançavam com tanques e aviões, lançando mísseis “inteligentes”. Milhares morreram e os púlpitos se mancharam de sangue. Como algum deles ainda consegue citar: “Bem-aventurados os pacificadores porque serão chamados filhos de Deus”?

Edir Macedo sugeriu que Lula, seu atual correligionário, era uma encarnação de Satanás. Segundo o bispo, o diabo seria um anjo “barbado, sem um dedo e de língua presa”.

Qual a correlação dos fatos? Simples. Ávidos de poder, homens e mulheres usam a religião para sancionar a suas ambições. Perdem até o receio de quebrar o terceiro mandamento: "Não tomarás o nome de YHWH, teu Deus, em vão, pois YHWH não considerará impune aquele que tomar seu nome em vão".

A lógica seria a seguinte: “nós somos os escolhidos de Deus, portanto, podemos acessar o seu poder e combater quem julgarmos um inimigo”. Se o presidente é cristão e sabe orar, não existe a mínima possibilidade de errar ou de reproduzir uma política belicista, imperialista. “The President” cumpre os propósitos eternos do Senhor. Se acontecerem mortes: "Deus precisa delas para cumprir a sua agenda".

Pronto! Discursos semelhantes justificaram a chacina de Montezuma. A rapinagem espanhola na América Latina, que exterminou nações, era “necessária para acabar com a idolatria pagã". Para sedimentar bem a civilização cristã, negros agonizaram no porão de navios imundos; muitos passaram pela vida como bichos acorrentados. E todas as caravelas partiam da península Ibérica com missa e as bênçãos oficiais do Papa - tudo para a "glória de Deus".

Eu participava de uma reunião evangélica em Atlanta, Geórgia, quando Bill Clinton ganhou a eleição. Naquele exato momento, ouvia o pensador indiano radicado nos Estados Unidos, Ravi Zacharias. Ele vaticinou com toda veemência que a permissividade moral do novo presidente levaria a nação à bancarrota. Zacharias fracassou em seu prognóstico. Clinton trouxe excelentes resultados para a América e ainda conseguiu se reeleger.

Permaneço cristão porque reconheço que Deus não se deixa manipular por rogos tão perversos e inconsequentes, caso contrário, teria pavor de algumas orações que já fizeram contra mim - parecidas com a do James Dobson.

Soli Deo Gloria.