segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Metade das Igrejas Evangélicas em Jundiaí estão funcionando sem a devida documentação

O pastor Eliel Lima, 31 anos, comanda a Comunidade Evangélica Resgate e Vida, na rua Torres Neves, Centro de Jundiaí. Ele trabalha em igrejas há 11 anos. Além de lutar pelo resgate de dependentes químicos neste tempo todo, há cerca de um ano ele briga para enquadrar o templo no qual atua à algumas leis dos homens para conseguir um alvará de funcionamento.

Em situação semelhante à da Resgate e Vida estão outras 100 igrejas evangélicas em Jundiaí e, pelo menos, 50 católicas.

Essas instituições religiosas estão com as portas abertas, com cultos e missas quase diárias, ou seja, a falta do alvará ainda não tem freado a força da fé. Mas ninguém sabe até quando estarão livres da fiscalização.

“Em Jundiaí, existe grande burocracia para conseguir toda essa documentação”, argumenta Eliel. “Acredito que há bares e casas de show que conseguem o alvará com mais facilidade do que nós.”

A Comunidade Evangélica Resgate e Vida luta para conseguir seu alvará de funcionamento. De acordo com o pastor Eliel Lima, cria-se barreiras pelo poder público para estar dentro da lei. Seu templo possui extintores e, segundo Eliel, toma as medidas de segurança necessárias para os fiéis

De acordo com o diácono Diogenes Faustino, 57, muitas das igrejas que hoje estão em processo de regulação são construções antigas, de épocas em que algumas das leis que hoje são aplicadas antes inexistiam.

Diogenes afirma que só em Jundiaí, os católicos contam com cerca de 100 igrejas, praticamente metade delas ainda em busca do alvará.

Dados da Secretaria de Finanças da prefeitura apontam que há somente 67 templos evangélicos legalizados em toda a cidade.

“Para evitar alguns problemas com espaços para igrejas, nós [católicos] não alugamos salões, apenas construímos”, declara Diogenes, que trabalha como procurador na Diocese de Jundiaí.

Trabalho semelhante entre os evangélicos da Igreja Assembleia de Deus tem o pastor Angelo Roberto de Andrade, 56, que, além de estar à frente de uma comunidade na Vila Ana, cuida da parte burocrática relacionada à instalação de novas igrejas por aqui.

“Acho que não há perseguição por parte do poder público e acredito que o último plano-diretor é coerente”, afirma Angelo, que diz que a Assembleia de Deus possui apenas “umas cinco igrejas que estão em busca de legalização”. Além delas, há pentecostais, batistas e presbiterianas na lista de espera da prefeitura. O prazo dado para a regularização pelo poder público é de 60 dias, com possibilidade, se justificado, de renovação.

Na espera

Ao pastor Idair da Silva, 52, foi dado esse prazo para a regularização da Pentecostal a Caminho do Céu, localizada no Jardim Tarumã. Mas isso há dois anos. O pastor, que mora em Várzea Paulista e percorre 7 km até a igreja em dias de culto, alega que o dono do salão realiza obras em suas parte superior, que nada tem a ver com a igreja, mas que interfere na questão.

Itens de segurança nem sempre são visíveis

Com uma porta metálica levantada, outra abaixada, sem qualquer extintor de incêndio ou luz de emergência, uma igreja funcionava na noite de quarta-feira no Jardim São Camilo.

Com 24 lugares, pano vermelho como decoração ao fundo do pastor e cerca de oito pessoas, a igreja não obedecia as normas de segurança necessárias para funcionar.

Próximo dela, no mesmo bairro, outra se apresentava mais iluminada, mas também sem extintores e luz de emergência. Apesar disso, contava com sistema de som e retroprojetor.

Além de obedecer a normas relacionadas à planta do empreendimento, as igrejas, como qualquer outro estabelecimento que recebe aglomeração de pessoas, deve seguir regras de segurança, cujas vistorias e laudos são emitido pelo Corpo de Bombeiros.

“O principal problema observado em espaço como igrejas, que recebem muitas pessoas, são as portas de emergência”, afirma o tenente Armando Verona, 29.
Em estabelecimentos como igrejas, ele diz, tem que ter extintor, “independente do tamanho” e, a cada trinta metros caminhados em seu interior, “portas de saídas laterais são necessárias”.

As luzes de emergência também se fazem necessárias, independente do tamanho do espaço.

Acima de 750 m² de área é necessária também a instalação de hidrantes, justamente o que ocorre na igreja católica do bairro Santa Gertrudes, que está sendo construída já com todas exigências necessárias.

“Tomamos todos os cuidados e a construção não sai do papel se não acatarmos as exigências da lei”, declara o diácono Diogenes. No entanto, o religioso reconhece que não é muito comum ver extintores em igrejas católicas e que, há algum tempo, isso começou a mudar.

Quando um vizinho determina vários destinos

Além da luta para se enquadrarem às leis e conseguirem um alvará, algumas igrejas evangélicas enfrentam ainda a ira de vizinhos, que reclamam do som alto e das comemorações.

“As vezes, e infelizmente, 200 pessoas têm de sair do local onde frequentam por causa de um único vizinho”, afirma o pastor Ezequias Soares, à frente da igreja Assembleia de Deus do Vianelo.

Um caso desses ocorreu na Colônia, com uma das unidades da Assembleia, que teve de sair do prédio onde estava e se mudou para outro espaço no mesmo bairro.

Da mesma forma lamenta o pastor Eliel Lima, que acredita que em alguns casos a voz de uma pessoa acaba tendo maior peso de outras várias e que alguns templos em Jundiaí já foram prejudicados, como o caso de uma igreja evangélica que era localizada na Fernando Arens e teve de mudar de local também devido a reclamações.

“Cada templo que se fecha, seja por motivos de reclamação ou mesmo motivos ligados a documentos, são vidas que perdemos e deixamos de ajudar, é uma grande perda às pessoas”, declara Eliel, que garante que, mesmo com as “amarras” da lei, a evangelização não deve parar. “Essa é nossa missão”, declara. “Em dez anos, o número de igrejas evangélicas em Jundiaí quase dobrou.”


Fonte: Rede Bom Dia
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