sábado, 12 de setembro de 2009

A teologia da libertação entre os pentecostais

A teologia da libertação há muito não é exclusividade do segmento católico, notadamente da América Latina. Os evangélicos, e inclusive os pentecostais, estão cultuando sua própria “teologia da libertação”.

A teologia da libertação nada mais é que um desvirtuamento da ação primordial da igreja, mesclando-a com atividades seculares de cunho político-social, sempre em prejuízo do seu papel de agência do reino de Deus.

Trata-se de um desprezo ao genuíno Evangelho, transformando-o numa práxis humanista, focada em valores terrenos, como se Jesus já não tivesse deixado dito com bastante clareza que seu reino não é deste mundo.

Indo mais diretamente à questão, equivale dizer que a igreja evangélica pentecostal tem se iludido com projetos políticos, fundados em interpretações equivocadas (ou maliciosas?) da Bíblia, confundindo referências a Israel como se à Igreja se aplicassem.

A mais absurda delas, muito em voga nos arraias evangélico-pentecostais, é aquele segundo o qual não devemos ser calda, mas cabeça, ou seja, os evangélicos precisam assumir os postos políticos de comando, nos níveis municipal, estadual e federal.

Daí vêm as aspirações ilusórias de que um evangélico no poder será a entronização da vontade de Deus. “Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor!” (Sl.33.12). Esse brado soa como uma convocação para formar fileiras políticas e eleger os irmãos para os cargos de comando da Nação.

“Já imaginou se um dia tivéssemos um presidente evangélico???!!!”, suspiram alguns. Ora, nada contra que algum irmão evangélico, eventualmente vocacionado para a vida pública, galgue este espaço, mas daí imaginar que isso trará a redenção da nação... Ledo engano.

Ou será que existe na Bíblia alguma profecia para restauração deste mundo através da ação política? Alguns poderiam responder: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, e se converter dos seus maus caminhos, eu ouvirei do céu, perdoarei os pecados e sararei a sua terra” (II Cr. 7.14).

“Sara nossa terra, Senhor!”, é outro brado muito ouvido. Mas sarar, como? A citação bíblica do parágrafo anterior merece análise sob dois aspectos. Primeiro, que se refere ao povo de Israel. Segundo, nota-se bem a que tipo de restauração se refere. Não outra, senão a de natureza espiritual, e baseada em humilhação, oração, conversão, perdão de pecados.

As coisas já foram tão longe que já se disse, repetidas vezes, que os evangélicos precisam fundar o seu próprio partido político, senão o projeto não dará certo. Como dizer, então, que não se aderiu à teologia da libertação, que outra mensagem não tem senão a libertação do homem pelo homem?

Enquanto se pensa em projetos políticos, nominados de ação de cidadania, o trabalho de pregação do Evangelho genuíno perde força, pois deixa de ser a razão única da vida da Igreja, somente aliada à adoração.

Não se despreze a importância de se ter evangélicos ocupando cargos eletivos, especialmente no Poder Legislativo, posto que lá também alguém precisa ser “sal e luz” (Mt. 5.13), mas que isso ocorra sem que se dê um enfoque de importância que realmente não existe.

Defender a Igreja? Promover justiça social? Conseguir incentivos e parcerias do Estado para os projetos paralelos da Igreja ou de suas entidades sociais? Tudo isso (à exceção da primeira “missão”) tem aparência de utilidade, mas no fundo “nega a eficácia” da agência do reino de Deus. Quanto a “defender a Igreja”... Tal não se justifica em qualquer foro de ação pública.

Não pode a Igreja de Jesus Cristo perder o foco de sua ação, “embaraçando-se com negócios desta vida” (II Tm 2.4), posto que foi edificada para usar as chaves do reino dos céus, religando o homem a Deus por intermédio do Cristo ressurreto. Quanto à restauração deste mundo no seu aspecto físico e social, somente no milênio, quando a sega já terá passado e findo terá o verão...

É melhor a Igreja não se envolver com uma luta inglória, deixando de exercer o ministério de glória que lhe foi dispensado, qual seja, pregar o evangelho para libertação dos cativos. A Igreja deve se valer da evangelização para melhorar a vida da sociedade, e não enganar-se pensando que “melhorando” a vida social estará evangelizando.

A visão da Teologia da Libertação, aliás, tem se infiltrado na Igreja especialmente nos discursos políticos e nas ações eleitorais, as quais, diga-se de passagem, terminam por não trazer nenhum nem outro resultado. Além de não se conseguir “resgatar” o homem de seu fosso econômico e social, deixa de contribuir para sua restauração espiritual.

Um retorno à simplicidade do Evangelho, desapegado de estruturas e de projetos políticos pessoais é uma medida de urgência. Quanto aos irmãos que têm vocação para o exercício de cargos públicos, que prossigam, se sentem ser esta a vontade de Deus para suas vidas. É nosso papel orientá-los e ajudá-los se realmente dignos, sem, todavia, envolver a Igreja nessas pretensões.

Fonte: http://www.webservos.com.br