sábado, 21 de maio de 2011

Dormindo com o "Inimigo": Quando o sexo no casamento torna-se pecado!

Há alguns meses tenho escrito aqui no Genizah. O convite foi feito pelo meu amigo, bispo Hermes Fernandes, mas foi o Danilo quem deu o aval final. Neste curto período, como sou um escritor eclético, falei de quase tudo: doutrina, filosofia, apologética, escatologia, eclesiologia, e coisas mais... Com um jeito muito particular, deixei escorrer de dentro de mim farelos de palavras, coisas que vivo e que vejo, pois no fundo sou um cronista existencial, um observador do cotidiano, andarilho da vida.

Contudo, de todos os textos postados, apesar de perceber a generosidade do público em geral, um em especial me levou a “notoriedade”: “Sexo Entre Jovens: Coando o Mosquito e Engolindo o Tiranossauro”. Tentando ponderar sobre o tema, acabei levando tanta “pancada” (risos) que o post hoje é o primeiro lugar entre os mais esculachados do blog! Fiquei zonzo... Foi “madeira de dar em doido”.

Aí eu tomei gosto pelo negócio... Como sou polêmico por natureza, tive uma idéia que, imagino, vai despertar “paixões” e “repúdios”. Desta vez, contudo, vamos falar do sexo no casamento e quando ele se torna pecado mesmo respaldado pelo “contrato” que foi assinado na igreja. Preocupamo-nos tanto com o “sexo antes do casamento” que, não raro, acabamos esquecendo do sexo no casamento!

Bem, para falar sobre o tema, de alguma forma, é preciso conceituá-lo. Não sou especialista no assunto, mas sou praticante há 20 anos (risos). Desta forma, imagino ter obtido alguma autoridade para discorrer sobre a questão. Além do mais, tenho ouvido durante décadas casais com os mais diversos tipos de problemas e conflitos na área sexual, o que se constitui vasto “material” para utilizar num artigo.

Com vistas a chegar a algum ponto de “iluminação” da consciência, vou tentar dizer logo de cara o que não é sexo. Será mais fácil assim. Sexo não é coito, ou seja, não é o ato em si, com carícias, preâmbulos, penetrações e orgasmo. Os animais fazem isto, mas não desfrutam da grandiosidade daquilo que Deus planejou para nós, humanos. Coito, é parte do sexo, mas ainda não é sexo.

Sexo é encontro de corpo, sim, mas também de alma e de espírito. Sexo é algo muito mais profundo e complexo do que a grande maioria de nós entende ou usufrui. O sexo começa no olhar, na sedução, na provocação, no desejo acalentado pacientemente. Depois ele passa pelas afinidades, complementaridades, pela admiração, o brilho no olhar, a paquera. Em seguida, vem a questão da “química”, do cheiro, do gosto, das formas, dos toques. E então, finalmente, vem a parte espiritual. Sim, sexo é coisa muito espiritual! Aliás, é mais espiritual do que muitas outras que imaginamos.

Fazer sexo com pessoas de “outro espírito” é deitar-se com alguém que tem uma natureza diferente da nossa e isto, obviamente, tem implicações para muito além do que se pensa ou se vê. Por isso, não à toa, Paulo fala sobre os desdobramentos deste tipo de sexo feito com a prostituta, ainda que ali o que ele quer tratar é muito mais sobre o “espírito de prostituição” do que da prostituta em si. Mas este tema é por demais complexo e eu falo dele em outra hora...

Se você quiser aprender alguma coisa boa sobre sexo no casamento, não precisa ler livros que dão conselhos sobre o tema, sobretudo estes que estão aí nas prateleiras e que são, na esmagadora maioria, baboseira pura. Faça o seguinte: abra a sua bíblia e debruce-se sobre o livro de Cantares. Ali está a mais linda poesia sobre o sexo, com metáforas das mais ousadas e pertinentes que farão um leitor atento e inteligente, que consiga ir além da “letra”, apropriar-se das alegorias e, assim, aprender muita coisa bonita e poética para a vida a dois.

Mas este não é um texto sobre sexo, e sim sobre o fato de se estar casado e fazer um tipo de sexo que é pecado diante de Deus. Sim, isto é possível e mais comum do que se imagina. Para entrar de cabeça na questão, vou usar apenas um texto dos muitos possíveis, pois ele vai me ajudar a pontuar o assunto.

“Não se recusem um ao outro, exceto por mútuo consentimento e durante certo tempo, para se dedicarem à oração. Depois, unam-se de novo, para que Satanás não os tente por não terem domínio próprio.”. 1ª Co. 7:5. O texto é riquíssimo, mas vou usar apenas esta parte dele: ““Não se recusem um ao outro, exceto por mútuo consentimento...”.

Em primeiro lugar, vamos esclarecer algo importantíssimo: não se “recusar um ao outro” não trata apenas da incidência da relação, ou seja, da agenda sexual, mas de algo com implicações mais profundas. Diferentemente do que, talvez, a maioria pense, não se recusa o parceiro apenas quando se diz a ele: “hoje não”, seja por que motivo for. Esta é apenas a forma mais usual.

Na verdade, podemos recusar alguém de muitas maneiras, inclusive inconscientemente. Aliás, podemos recusar um parceiro fazendo sexo com ele! Recusa é algo que acontece não só nas proibições físicas – “isso não; aqui não; desse jeito não; não gosto assim;...”, mais também a nível emocional. Neste segundo caso, o problema é subliminar, pois a resistência fica “presa a alma”, aos sentimentos, e até ao intelecto.

Mais há ainda outra frase chave nesta citação de Paulo e nós precisamos explorá-la melhor: “mútuo consentimento”. Sabe o que significa? Não é tão simples como talvez pareça. Não trata apenas de concordar sobre local e hora de fazer sexo, mas de algo muito mais profundo, ou seja, das práticas, dos “acordos”, dos “jogos” e “brincadeiras” que o casal se permite fazer quanto está neste nível de intimidade sem que nenhum dos dois se constranja, se sinta desconfortável, “invadido”, desrespeitado ou desconsiderado.

Então, usando o texto como uma referência, posso concluir que sexo entre um casal é algo que é feito sem privação, sem recusas, sem desculpas, sem subterfúgios, sem mentiras, sem disfarces, sem “véus”, no bom português: sem enrolação! E posso também arrematar que este sexo é feito de forma consensual, pactual, prazerosa – uma vez que um busca o que dá mais satisfação ao outro –, confortável, digna, respeitosa, equilibrada, ou seja, resumindo tudo: sexo é um encontro profundo de um ser com outro ser.

Posto isto, ainda que de forma superficial, pois senão o texto ficaria longo demais, posso agora lhe dizer, de forma bem explícita, quando o sexo é pecado NO CASAMENTO. Sexo é pecado quando é feito sem desejo, quando um dos cônjuges está ali pela “obrigação”, apenas para “esvaziar” o desejo retido do outro. Sexo é pecado quando é feito sem discernimento, de forma animalesca, quando é sexo pelo sexo, sem que ambos percebam que há algo que está acontecendo para muito além do físico, da carne, dos instintos.

Sexo é pecado quando eu o faço com minha mente “vagando” em outros “lugares” ou, pior, quando ele projeta alguém naquela “cena/ambiente” que ali não está, nem poderia estar, ou seja, quando faço amor com um(a) e ao mesmo tempo penso em outro(a). Sexo é pecado quando eu não respeito os “limites” do meu parceiro(a), quando, egoisticamente, estou em busca apenas do meu prazer, ainda que isto traga desconforto e até dor a ele(a). Isso quebra a “regra” da consensualidade; é pecado!

Sexo é pecado quando eu preciso de recursos periféricos para produzir excitação. Nestes casos, em particular, quero falar precisamente de vídeos pornográficos. Esta, inclusive, é uma das práticas mais comuns entre os “evangélicos”. Credo! O vício na pornografia vai diluindo a alma das pessoas, pois a substância interior se dissolve e vira uma pasta. Por isso tantas taras, bizarrices, esquisitices. Se você pudesse escutar o que eu ouço cairia duro! Sexo com o parceiro e a televisão passando vídeo de sacanagem é pecado!

Sexo é pecado quando eu não dou prazer ao outro. A coisa mais comum com a qual lido é ouvir das mulheres que elas jamais tiveram um orgasmo com seus parceiros em anos de casamento. E o “marmanjão” se achando “o cara”! É pecado! Mostra o descaso para com o outro, o descuido, a falta de percepção de seu constrangimento no ato, a falta de maturidade que me leva apenas a buscar meus 15 minutos de prazer em detrimento do outro que está há anos e anos na míngua, no deserto da excitação, na aridez do gozo. Bem disse Cazuza, é “solidão a dois”. E mais... é pecado! Lembrei de Lin Yutang: “É a minha conclusão que no Ocidente se pensa muito no sexo e muito pouco nas mulheres”.

Eu sei que poderia escrever muito mais, porém acho que este “material” já nos dá conteúdo suficiente para começarmos uma conversa franca com nosso cônjuge, para abrimos nosso coração e falarmos do que nos incomoda, do que nos aflige, do que nos agride, do que gostamos e detestamos. Sem transparência, sem perdão, sem preocupação sincera com o outro, sem respeito mútuo, jamais seremos felizes na cama com a pessoa a quem dizemos amar. E creia-me: milhares de separações poderiam ser evitadas se este tema fosse enfrentado de forma corajosa e verdadeira.

No mais, meus manos, aguardo os seus comentários! Já coloquei um capacete na cabeça para agüentar as “pedradas” que virão (risos).... Mas aqui declaro que falo a verdade, não minto, e faço-o com boa consciência e fé, na certeza plena de que o que digo pode gerar edificação e crescimento, tanto sexual quanto emocional e espiritual.

O que espero, sinceramente, é que você esteja conseguindo levar uma vida sexual boa, plena, digna, cheia de amor, de paixão, de tesão, de gozo e alegria, pois este é o padrão das Escrituras e o propósito de Deus. Para os demais, todavia, é bom ficar "ligado", pois, não raro, o que está mesmo acontecendo é que você está dormindo com o “inimigo”.


Fonte: Carlos Moreira no Genizah
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