quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Nigéria registra novo ataque contra cristãos

A violência prosseguiu neste domingo na Nigéria, com a morte de 10 pessoas em um novo ataque contra cristãos no norte, 48 horas após uma onda de ataques sangrentos que deixou ao menos 166 mortos na cidade de Kano, visitada pelo presidente Goodluck Jonathan, que anunciou prisões relacionadas a esses atos.

"Foram realizadas detenções (de supostos membros da seita islamita Boko Haram). Outros morreram nos ataques. Alguns eram camicases", disse Jonathan em entrevista à emissora britânica BBC, durante a visita a Kano, a segunda cidade mais importante do país e a maior do norte, região de maioria muçulmana.

"Deve ter gente que os financia. Os terroristas de todo o mundo têm suas fontes de financiamento. Observamos o que ocorre nestas áreas onde atuam para estarmos certos de que a gente do Boko Haram e aqueles que os apoiam, que o financiam, sejam julgados", acrescentou.

Interrogado sobre o número de membros do grupo islamita armado que reivindicou os atentados de sexta, o presidente respondeu: "ninguém pode dizer por enquanto, visto que não representam uma força armada organizada".

O presidente se reuniu com o emir Ado Bayero, principal líder muçulmano da cidade.

Mais cedo neste domingo, assaltantes lançaram granadas artesanais em casas de Tafawa Balewa, estado de Bauchi (centro-norte), surpreendendo os moradores adormecidos, segundo o líder da etnia Sayawa, a comunidade cristã atacada.

"Várias pessoas morreram nestas explosões, outras faleceram por tiros de armas automáticas enquanto saíam precipitadamente", disse o responsável, que acusou os Hausa-Fulani, etnia muçulmana, pelo ataque.

"Na troca de tiros que se seguiu, um policial, um soldado e oito civis não identificados morreram, atingidos por balas perdidas", afirmou Mohammed Barau, porta-voz da polícia, à AFP, acrescentando que seis suspeitos tinham sido detidos.

A cidade de Tafawa Balewa está situada na linha de divisão entre o norte, muçulmano, e o sul, cristão. Em 2011, confrontos sectários deixaram pelo menos 35 mortos, com mesquitas e casas queimadas.

Este novo incidente contra cristãos ocorreu após a série de ataques coordenados em Kano, reivindicados pelo grupo islamita Boko Haram, e que deixaram além dos mortos, mais de 50 feridos, segundo uma organização de ajuda humanitária.

"Um ataque terrorista contra uma pessoa é um ataque contra todos nós", afirmou Jonathan, ao chegar à cidade para a sua breve visita, enquanto inspecionava os locais que foram alvo da violência, prometendo intensificar a segurança.

As autoridades, que decretaram um toque de recolher total nesta cidade, aliviaram essa medida neste domingo, levando em conta o "relativo regresso à calma". O toque de recolher estará em vigor agora do início da noite ao amanhecer.

As ruas da cidade seguiam amplamente desertas esta manhã, apesar da suspensão parcial do toque de recolher.

Muitos policiais e militares estavam mobilizados nas praças estratégicas e em postos de controle instalados nas principais avenidas.

Um porta-voz do grupo islamita Boko Haram tinha reivindicado os ataques de Kano a um jornal local, explicando que o grupo atuou em represálias após a rejeição do governo de libertar vários de seus membros atualmente presos.

Pelo menos oito locais da cidade sofreram ataques coordenados, segundo a polícia: delegacias da polícia e serviços de imigração, assim como a residência de um funcionário da polícia. Cerca de 20 explosões foram ouvidas. Esta maneira de operar é relativamente comum no Boko Haram.

Alemanha, Grã-Bretanha e França condenaram firmemente estes ataques.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também repudiou as ações, dizendo-se "horrorizado" com a onda de ataques sangrentos em Kano, afirmou seu porta-voz neste domingo.

Ban "condena, nos termos mais enérgicos, os ataques coordenados ocorridos na cidade de Kano, causando muitas mortes e destruição", afirmou Martin Nesirky em comunicado difundido na noite de sábado.

"O secretário-geral está horrorizado com o número e a intensidade dos recentes ataques na Nigéria, que mostram um desprezo inaceitável pela vida humana", destacou.

Ban expressou, ainda, sua "solidariedade" com o governo e o povo nigeriano e pediu que seja celebrada "uma investigação rápida e transparente".

O Boko Haram (grupo cujo nome significa "A educação ocidental é um pecado") reivindicou diversos ataques, incluindo o atentado suicida cometido em agosto de 2011 contra a sede da ONU em Abuya, que deixou 25 mortos.

Recentemente, o grupo reivindicou também uma série de atentados contra igrejas cristãs, como o cometido no Natal, com um saldo de 49 mortos.

Em 31 de dezembro, após a onda de ataques atribuída ao Boko Haram, Jonathan impôs um regime de urgência em algumas regiões do norte do país, mas Kano ficou de fora das áreas cobertas.


Fonte: AFP
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