Conversando com duas amigas o outro dia, o assunto girou em torno do pavor que tínhamos de nos tornar velhos rabugentos, chatos, que sempre contam as mesmas histórias longas e cansativas. Foi então que me surgiu um pensamento sobre uma possível vacina contra esse destino deprimente.
Lembrei-me de minha avó, que mesmo após 80 anos de idade, obrigada a usar muletas para andar, saiu corajosamente sozinha do seu lar na Califórnia para nos visitar no interior de Goiás, em várias ocasiões diferentes, coisa que muitos jovens na época não se arriscavam a fazer! E uma das coisas que mais me impressionava nela era sua empolgação com todas as pessoas e acontecimentos que a cercavam. Chegava nos contando sobre as comissárias de voo e sobre casos interessantes e recentes. Ela nunca nos castigava com a obrigação de ouvir vez após vez as mesmas histórias cansativas.
Muitos outros exemplos me vieram à mente também, incluindo a da minha mãe que, com mais de 90 anos de idade, mantinha o mesmo envolvimento ativo com pessoas ao seu redor e não se restringia a memórias do passado.
Por que muitos velhos (e alguns não tão velhos assim em idade!) não se lembram de que já nos contaram algum caso e passam a nos contá-lo novamente, vez após vez? Penso que um dos motivos pode ser a solidão interior (não necessariamente causada pela ausência da convivência com pessoas), o envolvimento quase total da pessoa consigo mesma, uma existência subjetiva ao extremo. Isso faz com que a pessoa, ao contar um caso, não esteja muito interessada em seu interlocutor, e sim no caso em si e em seus próprios sentimentos em relação ao mesmo. Por isso, ela não se lembra de que já contou o caso para aquela pessoa! Para ela não interessa a audiência e sim o preletor (no caso, ela mesma!). Quando nos interessamos mais pela pessoa com quem estamos falando do que pelo assunto que estamos contando, dificilmente nos esqueceremos de que ela já nos ouviu contá-lo.
Dessa forma, uma boa dica para evitarmos algumas características desagradáveis da velhice seria procurar sempre nos envolver profundamente com as pessoas e acontecimentos ao nosso redor. Isso nos livrará de nos afastarmos do mundo real e ficarmos reduzidos ao mundo interior de nossas memórias. Mesmo que seja muito mais difícil para nós, com o passar dos anos, nos atualizarmos com as novidades desse mundo agitado e em constante transformação, é vital que nos esforcemos para isso, o máximo possível, para não ficarmos reduzidos ao nosso mundo subjetivo interior. Nunca devemos deixar de aceitar desafios, fugir de situações ou pessoas desconhecidas, evitar circunstâncias que exigem nova aprendizagem.
Uma das definições de vida é “o intercâmbio constante do interior com o exterior”. Se pararmos de respirar (entrada e saída de oxigênio dos nossos pulmões) ou de nos alimentar (entrada e saída de alimentos do nosso sistema digestivo), morreremos. Da mesma forma, se deixarmos de nos envolver com pessoas e acontecimentos ao nosso redor, começamos a morrer interiormente. É por isso, que o confinamento à solitária é o pior castigo que se pode dar a um preso e muitos enlouquecem!
Fonte: Harold Walker na Revista Impacto
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Lembrei-me de minha avó, que mesmo após 80 anos de idade, obrigada a usar muletas para andar, saiu corajosamente sozinha do seu lar na Califórnia para nos visitar no interior de Goiás, em várias ocasiões diferentes, coisa que muitos jovens na época não se arriscavam a fazer! E uma das coisas que mais me impressionava nela era sua empolgação com todas as pessoas e acontecimentos que a cercavam. Chegava nos contando sobre as comissárias de voo e sobre casos interessantes e recentes. Ela nunca nos castigava com a obrigação de ouvir vez após vez as mesmas histórias cansativas.
Muitos outros exemplos me vieram à mente também, incluindo a da minha mãe que, com mais de 90 anos de idade, mantinha o mesmo envolvimento ativo com pessoas ao seu redor e não se restringia a memórias do passado.
Por que muitos velhos (e alguns não tão velhos assim em idade!) não se lembram de que já nos contaram algum caso e passam a nos contá-lo novamente, vez após vez? Penso que um dos motivos pode ser a solidão interior (não necessariamente causada pela ausência da convivência com pessoas), o envolvimento quase total da pessoa consigo mesma, uma existência subjetiva ao extremo. Isso faz com que a pessoa, ao contar um caso, não esteja muito interessada em seu interlocutor, e sim no caso em si e em seus próprios sentimentos em relação ao mesmo. Por isso, ela não se lembra de que já contou o caso para aquela pessoa! Para ela não interessa a audiência e sim o preletor (no caso, ela mesma!). Quando nos interessamos mais pela pessoa com quem estamos falando do que pelo assunto que estamos contando, dificilmente nos esqueceremos de que ela já nos ouviu contá-lo.
Dessa forma, uma boa dica para evitarmos algumas características desagradáveis da velhice seria procurar sempre nos envolver profundamente com as pessoas e acontecimentos ao nosso redor. Isso nos livrará de nos afastarmos do mundo real e ficarmos reduzidos ao mundo interior de nossas memórias. Mesmo que seja muito mais difícil para nós, com o passar dos anos, nos atualizarmos com as novidades desse mundo agitado e em constante transformação, é vital que nos esforcemos para isso, o máximo possível, para não ficarmos reduzidos ao nosso mundo subjetivo interior. Nunca devemos deixar de aceitar desafios, fugir de situações ou pessoas desconhecidas, evitar circunstâncias que exigem nova aprendizagem.
Uma das definições de vida é “o intercâmbio constante do interior com o exterior”. Se pararmos de respirar (entrada e saída de oxigênio dos nossos pulmões) ou de nos alimentar (entrada e saída de alimentos do nosso sistema digestivo), morreremos. Da mesma forma, se deixarmos de nos envolver com pessoas e acontecimentos ao nosso redor, começamos a morrer interiormente. É por isso, que o confinamento à solitária é o pior castigo que se pode dar a um preso e muitos enlouquecem!
Fonte: Harold Walker na Revista Impacto
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