Ontem, a reportagem de O TEMPO, conversou por telefone com o casal de pastores. Eles são do Rio de Janeiro, onde foi fundada a primeira unidade da igreja, em 2006. Marcos Gladstone, formado em teologia e direito, e Fábio Inácio, supervisor de telemarketing, foram os primeiros pastores do país a oficializarem uma união homoafetiva.
De acordo com o pastor Gladstone, a igreja nasceu de um sonho e do amor entre ele e o companheiro e a adoração que sentem por Jesus. "Durante anos convivemos com os preconceitos contra os homossexuais. Enfrentamos conflitos pessoais, mas hoje sabemos que Deus nos aceita como somos", afirmou ele.
Atualmente, segundo os pastores, existem mais duas outras unidades da igreja no Rio de Janeiro e aproximadamente 500 membros.
O pastor Fábio Inácio explicou que os cultos das igrejas são ministrados como em qualquer igreja evangélica, com oração, pregação e louvor. A bíblia usada também é a mesma. "Estamos levando a palavra de Deus para aquelas pessoas que desejam fazer parte de uma congregação, mas não são aceitas devido a sua orientação sexual", informou.
Apesar de a maioria dos membros ser gays (cerca de 90%), Gladstone e Inácio afirmam que a igreja é frequentada também por heterossexuais. "Os gays são a maioria porque não são aceitos em outras igrejas".
O cabeleireiro Guilherme Braga, 25, morador da capital, contou que era membro de uma tradicional igreja evangélica, mas, desde que tomou conhecimento da Igreja Cristã Contemporânea, vai ao local uma vez por mês. "O amor de Deus é sem preconceito. Agora eu me encontrei".
Vídeo é marco de diversidade
Marcos Gladstone e o pastor Fábio Inácio se conheceram em maio de 2006 e, três anos depois, em 20 de novembro de 2009, oficializaram a união com uma cerimônia religiosa. O vídeo da cerimônia, considerada por eles "um marco divisor na luta contra a homofobia religiosa" (confira abaixo). (AS)
Assista ao vídeo:
Ordenação não é reconhecida
O presidente do Conselho de Pastores e Ministros Evangélicos de Minas Gerais (Cpemg-MG), Jorge Linhares, não foi encontrado para falar sobre a criação da Igreja Cristã Contemporânea de Belo Horizonte. Não há nenhum um órgão que regulamente o funcionamento de igrejas evangélicas, que são independentes, ao contrário do que acontece na Igreja Católica, por exemplo.
Entretanto, o Cpemg não reconhece a ordenação de pastores homossexuais. A justificativa seria que os ensinamentos bíblicos não aprovam o comportamento.
Desde 2004, funciona também na capital mineira a Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM), fundada pelo pastor Marcos Martins, que tem um relacionamento homossexual estável há quatro anos. Para Martins, não há polêmica. "É natural aparecerem mais grupos de evangelho inclusivo", diz.
O pastor trabalha com dados sociológicos que calculam que cerca de 150 mil pessoas em Belo Horizonte tenham orientação sexual diferenciada. "Temos que acolher quem precisa de ajuda, porque a orientação sexual é uma benção que Deus nos deu e não deve ser renegada. Ninguém pode ser discriminado por uma ação divina", afirma. (Tereza Rodrigues/Especial para O TEMPO)
Minientrevista
“Foi um sonho que nós realizamos”
Marcos Gladstone Pastor, 34 anos Fundador da igreja
Como é sua relação e a do Pastor Fábio com a religião? Tivemos uma criação evangélica. Na adolescência, enfrentamos preconceitos e lutamos como os nosso próprios conflitos.
Vocês dois chegaram a viver relações heterossexuais? Sim. Eu fui noivo durante quatro anos, e o Fábio também teve uma namorada, mas não estávamos felizes. Eu só aceitei minha orientação sexual depois que fui para os Estados Unidos.
Como vocês resolveram fundar a igreja? Nós dois gostávamos de frequentar cultos, de louvar e orar, mas não éramos aceitos por sermos gays. Foi um sonho nosso que realizamos, sem sabermos que ele era também de milhares de pessoas.
Fonte: O Tempo
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