quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Mórmons fazem congresso para ensinar jovem a se vestir e evitar problema no Carnaval

Eles pregam que a aparência deve ser a mais próxima de um representante de Cristo e, portanto, pedem aos jovens que evitem os modismos. Na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida com a dos Mórmons, esse cuidado é tanto que existe até congresso de normas de vestuário.

Em Campo Grande, o último, focado no retiro de Carnaval, aconteceu na semana passada. Foi uma preparação para o FSY (For The Strength of Youth) ou, em português, “Para o Vigor da Juventude”, evento que deve reunir pelo menos 500 jovens de 1 a 5 de março, no Eco Hotel do Lago.

O FSY é um programa da própria igreja, organizado pela BYU (Universidade de Brigham Youg). Nos Estados Unidos é realizado há mais de 30, mas no Brasil chegou apenas em 2011. Trata-se de uma conferência que, segundo o material de divulgação, “proporcionará à juventude a oportunidade de aprender e crescer em conjunto, através da participação em cursos, oficinas e reuniões espirituais”.

Panfleto com orientações para o evento

Regras - É mais um encontro, uma espécie de retiro religioso que vai acontecer no período de Carnaval, mas o que chama a atenção, neste caso, são as regras, bastante rígidas. Os interessados receberam um livreto com todas elas.

Elas - As moças são orientadas a usarem um corte de cabelo conservador, “simples e de bom gosto”. Extravagâncias, como as cores não naturais (verde azul e roxo, por exemplo), não são permitidas.
Brincos? Só um par nas orelhas. É vetado o uso de piercing no corpo ou alargadores. Saias, vestidos e bermudas são autorizados, desde que estejam na altura do joelho.

As roupas, aliás, “não devem revelar partes do corpo, serem justas ou deixar os ombros descobertos”. Mesma regra se aplica às costas e barrigas. “Não se vista de modo relaxado ou inadequadamente informal”, diz o texto.
Calçados devem ser usados o tempo todo, mas o jovem deve se atentar às situações. “Sapato ou sapatilha não deve ser usado em uma atividade recreativa”.

Eles – Para os rapazes as orientações seguem a mesma linha. Eles não podem, de jeito nenhum, usar brincos, piercings ou alargadores, muito menos barba. Nenhum tipo será aceito. “As costeletas não podem passar do lóbulo da orelha, nem crescer em direção às bochechas”.

O corte de cabelo, para os garotos, também deve ser conservador e sem pintura com cores não naturais. Os fios precisam estar, obrigatoriamente, acima do colarinho. Orelhas e olhos devem estar visíveis. “Não são permitidos rabos de cavalos, tranças, trancinhas, desenhos, esculturas (inclusive o estilo moicano) ou a cabeça completamente raspada”.

Na parte do vestuário, a mesma orientação para não parecer relaxado e um adendo: As calças devem ser usadas no nível da cintura; a roupa de baixo não devem aparecer. No item calçados, a mesma norma aplicada às garotas, mas com uma observação: sapato social para o domingo não é o mesmo usado em uma atividade recreativa.

Para os dois - As regras não param por aí. Há outros seis tópicos, destinados para os rapazes e as moças: Não será aceito o uso de chapéus, bonés ou óculos escuros em lugares fechados; camisetas sem manda; vestuário que contenha desenhos e/ou palavras ofensivas e sugestivas; roupas justas; trajes que exponham ou revele o corpo e “modismo” (gótico ou emo, por exemplo).

Todas essas orientações devem ser seguidas à risca ou o participante será proibido de entrar no evento. É uma exigência. Os que não estão de acordo serão barrados.

Vida dentro da igreja - Embora as normas façam parte dos ensinamentos da igreja, elas não são usadas como critérios para aceitação de novos membros. Pelo menos é isso o que garante o diretor de assuntos públicos e administrador do programa FSY em Campo Grande, Daniel Patelli, de 34 anos.

Grupo vai participar do retiro em março

Segundo ele, se alguém de cabelo roxo ou rosa, por exemplo, adentrar ao templo, será bem recebido, como qualquer fiel. Poderá frequentar os cultos, mas será apresentando às regras, claro. O ideal é que se siga. Se não seguir, não será barrado. “Todas as pessoas são bem-vindas. Todos podem entrar e assistir”, disse.

Segundo informações divulgadas em seu site oficial, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias tem mais de 15 milhões de membros em todo o mundo, a maioria deles fora dos Estados Unidos. Existem congregações em mais de 150 países e territórios. Em Campo Grande, segundo Daniel, são 11 unidades para 7 mil membros.

Andressa enfrenta críticas, mas tem certeza que quer continuar na igreja

Andressa Borba, de 17 anos e Igor Palhano, de 14, fazem parte desse “time”. Batizaram aos 8 anos. Os dois foram criados na igreja porque, quando nasceram, os pais já eram seguidores, por isso, aprenderam, desde cedo, os ensinamentos.

Apesar de novos, de nem terem saído da adolescência, eles tem a plena certeza de querem seguir a doutrina para o resto da vida. Andressa confessa que teve algumas “crises” internas. “Chega uma hora que bate a duvida”, comentou.

Hoje a garota se diz resolvida. Fala da decisão sem medo de errar: “No decorrer do tempo você vai aprendendo, sabendo que aquilo e verdade. Você consegue sentir no coração que quer aquilo para você. Os padrões que o mundo vive, que as outras pessoas seguem, não vai te fazer feliz. Eu tenho certeza que todas as coisas que sigo vão me fazer e feliz”

Batizado desde 8 anos, Igor diz que, aos olhos do mundo, é um garoto diferente

Igor Palhano vai além. Com discurso de gente grande, o garoto começa dizendo que a igreja sempre quer o melhor. “Nosso melhor com a família, com a gente mesmo. Não buscamos a felicidade momentânea, mas a futura, a duradoura. O que a gente escolhe hoje reflete amanhã e, com certeza, vamos colher a felicidade a coisas boas. Hoje a gente priva o nosso corpo das coisas ruins porque no futuro isso vai ser revertido em atos bons”, disse.

Eles enfrentam críticas, mas já aprenderam a lidar com elas. Andressa diz que, às vezes, pelo estilo de vida, se mostra incompreensível, mas os amigos verdadeiros aceitam e respeitam. Igor comenta a mesma coisa, mas diz que, querendo ou não, “tem certa diferença do mundo”, por isso, diante de tantas influências, o jeito é se manter firme.

Para eles, as regras, mesmo as que parecem absurdas na visão de muita gente, tem fundamento e são perfeitamente aceitáveis. Daniel Patelli, o diretor de assuntos públicos, pensa da mesma forma.

Diretor do programa em Campo Grande, Daniel considera as regras perfeitamente aceitáveis

“Nós consideramos que o corpo é um templo de Deus e nós queremos preservar isso da melhor forma possível”, disse, ao comentar que a mudança às vezes não vem de imediato, mas “à medida que a pessoa vai conhecendo, aprendendo, incorporando e tendo novas amizades com gente que também é da igreja, ela vai mudando seu comportamento e vestuário”.

Apesar da declaração, ele não parece querer influenciar. Finalizou a entrevista dizendo que a igreja não tem preconceitos com nenhuma religião ou pessoa e citando, de uma lista de 13 tópicos, a 11ª Regra de Fé:

“Pretendemos o privilégio de adorar a Deus Todo-Poderoso de acordo com os ditames de nossa própria consciência; e concedemos a todos os homens o mesmo privilégio, deixando-os adorar como, onde ou o que desejarem”.





Fonte: Campo Grande News
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