Idosos que são hospitalizados têm mais risco de sofrer problemas cognitivos depois de receberem alta, de acordo com um estudo publicado na revista “Neurology” e motivo de artigo do “New York Times”. O motivo ainda não se sabe, mas acredita-se que tanto a doença que levou o paciente para o hospital quanto os tratamentos recebidos durante a internação contribuam para tal. E o risco parece permanecer durante vários anos, segundo Robert Wilson, autor do estudo e professor de ciências neurológicas e comportamentais na Centro Médico Universitário Rush, em Chicago.
Wilson e sua equipe examinaram informações de 1.355 pessoas, com 65 anos ou mais, que participaram do Projeto Saúde e Envelhecimento, um estudo de longo prazo sobre doenças crônicas desenvolvido em três áreas de Chicago com população bastante diversificada. Todos os pacientes foram hospitalizados em algum momento entre janeiro de 1993 e dezembro de 2007. Eles passavam por entrevistas a cada três anos, quando também eram submetidos a testes de avaliação de seu estado mental. Pelo menos uma entrevista ocorria antes de uma hospitalização e duas depois, para permitir a comparação.
Os pesquisadores descobriram que o nível de declínio cognitivo de muitos dos pacientes mais velhos aumentou significativamente após uma estada no hospital, afetando seu raciocínio e memória. É normal que haja alguma perda nesta fase da vida, mas ela mais do que dobrou.
— É como se as pessoas ficassem dez anos mais velhas do que eram, do ponto de vista cognitivo, depois de uma hospitalização — explica Wilson, ressaltando que o problema não ocorreu com todos os pacientes cujos dados foram analisados.
Especialmente vulnerável a este efeito foram as pessoas com doenças mais graves, que permaneceram hospitalizadas por longos períodos, e pacientes que começaram a apresentar problemas de memória e raciocínio antes de serem internados.
— Achamos que um período no hospital pode revelar e acelerar problemas cognitivos identificados previamente — conclui Wilson.
Já é sabido que a internação pode interferir na habilidade dos pacientes idosos de executar atividades diárias tais como tomar banho e vestir-se sozinho, lembra Kenneth Covinsky, professor de geriatria da Universidade da Califórnia.
— O que essa nova pesquisa faz é confirmar algo de que suspeitávamos, mas não havia dados suficientes para afirmarmos isso antes deste estudo — disse ele.
Ele frisa que é importante que a família do paciente esteja ciente do problema, para ajudá-lo na volta para casa.
— É preciso entender que, quando seu parente idoso volta do hospital, ele pode passar por um período de muita vulnerabilidade —disse Covinsky. — E pode precisar de mais apoio ainda (do que antes da hospitalização).
Para Malaz Boustani, professor associado de medicina na Universidade de Indiana, o delírio — uma transformação abrupta no estado mental que ocorre em 20% dos pacientes hospitalizados — pode ser o responsável pelo declínio cognitivo observado mais tarde e mostrado no estudo do Centro Médico Universitário Rush. Quando acometidos por delírio, os pacientes ficam confusos, desorientados e agitados, ou, pelo contrário, alheios e recolhidos.
— O delírio já foi tratado como algo transitório. Mas, cada vez mais, vem sendo considerado um dano cerebral que pode mudar a trajetória do estado cognitivo — diz Boustani. — Mesmo quando a pessoa está supostamente recuperada, parece haver um efeito residual.
O que é preciso descobrir agora, diz o médico, é se o problema ocorre em consequência da doença que levou o paciente ao hospital ou pelo tratamento dado a ele durante a internação.
— Mas parece que as duas coisas contribuem — diz ele.
Professora associada de medicina da Universidade de Washinton, Catherine Hough afirma que o declínio cognitivo pós-hospitalização pode estar ligado a efeitos de longo prazo — e pouco estudados — de medicamentos recebidos durante a internação.
Outros fatores podem contribuir, a longo prazo, para o declínio cognitivo, como pequenos derrames, nível de açúcar no sangue não controlado e falta de atividade mental durante o tempo de internação, diz a médica.
Felizmente, observa Robert Wilson, como há meios de prevenir o delírio e controlar estes outros fatores, é legítimo acreditar que o declínio cognitivo de pacientes idosos após a internação é algo que se pode prevenir.
Fonte: O Globo
--------------
Wilson e sua equipe examinaram informações de 1.355 pessoas, com 65 anos ou mais, que participaram do Projeto Saúde e Envelhecimento, um estudo de longo prazo sobre doenças crônicas desenvolvido em três áreas de Chicago com população bastante diversificada. Todos os pacientes foram hospitalizados em algum momento entre janeiro de 1993 e dezembro de 2007. Eles passavam por entrevistas a cada três anos, quando também eram submetidos a testes de avaliação de seu estado mental. Pelo menos uma entrevista ocorria antes de uma hospitalização e duas depois, para permitir a comparação.
Os pesquisadores descobriram que o nível de declínio cognitivo de muitos dos pacientes mais velhos aumentou significativamente após uma estada no hospital, afetando seu raciocínio e memória. É normal que haja alguma perda nesta fase da vida, mas ela mais do que dobrou.
— É como se as pessoas ficassem dez anos mais velhas do que eram, do ponto de vista cognitivo, depois de uma hospitalização — explica Wilson, ressaltando que o problema não ocorreu com todos os pacientes cujos dados foram analisados.
Especialmente vulnerável a este efeito foram as pessoas com doenças mais graves, que permaneceram hospitalizadas por longos períodos, e pacientes que começaram a apresentar problemas de memória e raciocínio antes de serem internados.
— Achamos que um período no hospital pode revelar e acelerar problemas cognitivos identificados previamente — conclui Wilson.
Já é sabido que a internação pode interferir na habilidade dos pacientes idosos de executar atividades diárias tais como tomar banho e vestir-se sozinho, lembra Kenneth Covinsky, professor de geriatria da Universidade da Califórnia.
— O que essa nova pesquisa faz é confirmar algo de que suspeitávamos, mas não havia dados suficientes para afirmarmos isso antes deste estudo — disse ele.
Ele frisa que é importante que a família do paciente esteja ciente do problema, para ajudá-lo na volta para casa.
— É preciso entender que, quando seu parente idoso volta do hospital, ele pode passar por um período de muita vulnerabilidade —disse Covinsky. — E pode precisar de mais apoio ainda (do que antes da hospitalização).
Para Malaz Boustani, professor associado de medicina na Universidade de Indiana, o delírio — uma transformação abrupta no estado mental que ocorre em 20% dos pacientes hospitalizados — pode ser o responsável pelo declínio cognitivo observado mais tarde e mostrado no estudo do Centro Médico Universitário Rush. Quando acometidos por delírio, os pacientes ficam confusos, desorientados e agitados, ou, pelo contrário, alheios e recolhidos.
— O delírio já foi tratado como algo transitório. Mas, cada vez mais, vem sendo considerado um dano cerebral que pode mudar a trajetória do estado cognitivo — diz Boustani. — Mesmo quando a pessoa está supostamente recuperada, parece haver um efeito residual.
O que é preciso descobrir agora, diz o médico, é se o problema ocorre em consequência da doença que levou o paciente ao hospital ou pelo tratamento dado a ele durante a internação.
— Mas parece que as duas coisas contribuem — diz ele.
Professora associada de medicina da Universidade de Washinton, Catherine Hough afirma que o declínio cognitivo pós-hospitalização pode estar ligado a efeitos de longo prazo — e pouco estudados — de medicamentos recebidos durante a internação.
Outros fatores podem contribuir, a longo prazo, para o declínio cognitivo, como pequenos derrames, nível de açúcar no sangue não controlado e falta de atividade mental durante o tempo de internação, diz a médica.
Felizmente, observa Robert Wilson, como há meios de prevenir o delírio e controlar estes outros fatores, é legítimo acreditar que o declínio cognitivo de pacientes idosos após a internação é algo que se pode prevenir.
Fonte: O Globo
--------------