sábado, 3 de março de 2012

Deus é imutável em sua natureza

Podemos considerar os seguintes pontos na imutabilidade da natureza de Deus.

a. Não há mudança em seu brilho

O brilho de Deus não se ofusca. Sua essência brilha com um resplendor fixo. "Em quem não pode existir variação ou sombra de mudança" (Tg 1.17). "Tu, porém, és sempre o mesmo" (SI 102.27). Todas as coisas criadas são cheias de mudanças repentinas. Príncipes e imperadores são sujeitos a mudança. Sesóstris, um príncipe egípcio, tendo subjugado diversos reis em guerras, fez que seus cavalos fossem substituídos pelos reis conquistados e os fazia imitar os cavalos, como se pretendesse que comessem grama, semelhantemente ao que Deus fez com o rei Nabucodonosor. A coroa tem muitos sucessores. Reinos têm seus eclipses e convulsões. O que aconteceu com a glória de Atenas? Da pomposa Tróia restou o ditado: hoje cresce milho onde um dia estava Tróia. Embora reinos tenham a cabeça de ouro, seus pés são de barro.

Os céus mudarão. "Todos eles envelhecerão como um vestido, como roupa os mudarás, e serão mudados" (SI 102.26). Os céus são os registros mais antigos, nos quais Deus escreveu sua glória com um raio de luz, mas mesmo assim eles mudarão. Embora particularmente não ache que devam ser destruídos até sua substância, ainda assim eles serão mudados em relação às suas qualidades. Derreterão com o calor fervente e, assim, serão mais refinados e purificados (2Pe 3.12). Assim os céus serão mudados, mas aquele que habita nos céus não. "Em quem não pode existir variação ou sombra de mudança."

Os melhores santos têm seus eclipses e mudanças. Observe um cristão em sua vida espiritual, ele é cheio de variação. Ainda que a semente da graça não morra, sua beleza e atividade geralmente diminuem. Um cristão tem recaídas na religião. Às vezes sua fé está num nível alto, às vezes muito baixo. Às vezes seu amor arde, outras vezes é como fogo de brasas, perde seu primeiro amor. Como foi forte o estado de graça de Davi certa vez. "O meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; o meu escudo, a força da minha salvação" (2Sm 22.3). Outras vezes disse: "Um dia perecerei nas mãos de Saul". Que cristão pode dizer que não encontra mudanças em seu estado de graça a ponto do arco de sua fé nunca dobrar, as cordas de sua viola nunca afrouxarem? Certamente nunca conheceremos cristãos assim até que nos encontremos com eles no céu. Mas Deus é sem sombra de variação.

Os anjos foram sujeitos a mudança; foram criados santos, mas mutáveis: "... anjos, os que não guardaram o seu estado original" (Jd 6). Essas estrelas matinais do céu eram estrelas cadentes. Mas a glória de Deus brilha com um fulgor fixo. Em Deus não há nada que se parece com mudança, para melhor ou pior. Nem para melhor, porque então não seria perfeito. Nem para pior, pois cessaria de ser perfeito. Ele é imutavelmente santo, imutavelmente bom; não há sombra de variação nele.

b. Não há mudança na encarnação

Neste ponto, alguém pode apresentar a seguinte indagação: Mas quando Cristo, que é Deus, assumiu a natureza humana, houve uma mudança em Deus.

Caso a natureza divina tivesse sido convertida em humana, ou a humana em divina, teria havido uma mudança, mas não foi assim que aconteceu. A natureza humana era distinta da divina. Portanto, não houve mudança. Uma nuvem sobre o sol não muda o corpo solar, assim, embora a natureza divina fosse coberta com a humana, isso não a mudou.

c. Não há mudança em sua existência

Não há um tempo determinado para sua existência: "O único que possui imortalidade" (lTm 6.16). Deus não pode morrer. Uma essência infinita não pode ser mudada para uma fínita. Deus é infinito. Ele é eterno, por isso não é mortal. Ser eterno e mortal é uma contradição.


Fonte: Thomas Watson em May Flower
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