quarta-feira, 21 de março de 2012

Rússia teme que situação na Síria dê início a conflito religioso

A Rússia teme que a desintegração do modelo atual do Estado sírio possa marcar o início de um amplo conflito religioso entre as duas principais confissões do mundo islâmico, a sunita e a xiita, suscetível de estender-se a Irã e Iraque.

"Se for rompido o caráter multiétnico e multiconfessional no complexo modelo do Estado sírio, em cuja história houve não poucos eventos dramáticos, as consequências podem ser imprevisíveis. É óbvio que o modelo atual não funcionou", lamentou o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov (foto).

O chefe da diplomacia russa teme que a situação na Síria "possa eclodir a crise entre xiitas e sunitas no mundo islâmico. Se o atual modelo for derrubado, a situação pode mudar não só no Irã, mas também no Iraque, onde os sunitas se sentem subjugados".

"Por isso, qualquer decisão sobre a Síria pode desencadear processos muito sérios. E todos os que podem influenciar de alguma maneira neste processo devem ser conscientes de todo o alcance de sua responsabilidade", advertiu Lavrov em entrevista concedida ao canal de televisão "Rossiya".

Após o apoio da Rússia nesta sexta-feira no Conselho de Segurança à missão mediadora na Síria do ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, Lavrov ressaltou hoje que Moscou impulsionará qualquer acordo sobre os dirigentes sírios sempre que se deem no marco de um diálogo entre as partes em conflito.

Ao mesmo tempo, o ministro russo se queixou da militarização de algumas facções da oposição síria. "O Conselho Nacional Sírio anunciou que está criando um ala militar que recolherá fundos para a compra de armas a fim de seguir lutando contra o regime. Se os eventos seguirem este cenário, será difícil que nossas chamadas para o cessar-fogo sejam levadas em conta pelo Governo (de Assad)", apontou.

Nesta sexta-feira, o enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Kofi Annan, expressou sua decepção perante as respostas obtidas de Damasco em sua mediação na crise do país, mas se mostrou decidido a seguir negociando após alcançar o respaldo unânime dos 15 membros desse órgão.

O ex-secretário-geral assegurou que "ainda há espaço para o diálogo" com o regime de Assad, e anunciou que recebeu sinal verde do governo sírio para enviar ao país neste domingo uma missão técnica para continuar as conversas.

Annan lembrou que fez três pedidos muito concretos a Assad: pôr fim ao derramamento de sangue, estabelecer conversas políticas críveis e permitir o acesso humanitário ao país, mas não precisou se obteve resposta a essas requisições.

Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente

Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.

A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.

Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores, sem surtir grandes efeitos. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, as forças de Assad iniciaram uma investida contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. Uma ONG ligada à oposição estima que pelo menos 7,6 mil pessoas já tenham morrido, número similar ao calculado pela ONU.


Fonte: Terra com informações de EFE
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