sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Três filmes sobre fé dividem a atenção no Festival de Veneza

Cena de 'To The Wonder', de Terrence Malick

A fé – em Deus, num homem, no futuro – é o tema em comum dos três principais candidatos a prêmios sérios (Leão de Ouro, Prêmio Especial do Júri e direção), no Festival de Veneza 2012 , transcorrida metade da competição.

Os três candidatos, por ordem de tipo de fé: “To the Wonder”, de Terrence Malick, e seus polêmicos chamamentos a um Deus católico, “The Master” , de Paul Thomas Anderson, sobre o fundador de um movimento religioso, e “Apres Mai” , de Olivier Assayas, sobre a esperança no futuro – e no cinema como o espaço onde o mundo pode ser melhor.

Joaquin Phoenix em 'The Master', dirigido por Paul Thomas Anderson

Essa coincidência tem a ver, certamente, com os tempos desoladores que vivemos, sem perspectivas de melhoria. Mas também com um evidente direcionamento do novo diretor do festival, Alberto Barbera , que escolheu alguns filmes e foi cercando-os de outros abertos a um diálogo, como fazem Berlim e Cannes.

Só assim, inclusive, dá para explicar a inclusão do israelense “Lemale et Ha’Chalal” , de Rama Burshtein, uma história de amor e fé com grandes problemas dramatúrgicos. Já o austríaco “Paradies: Glaube” , de Ulrich Seidl, merecia estar na seleção, ainda que não apresente grandes novidades em sua desesperançada trama de fanatismo autopunitivo da protagonista, Annamaria.

Outro assunto em pauta nos filmes da competição é a crise de valores evidenciada pela crise econômica. No fraco norte-americano “At Any Price” , de Ramin Bahrani, a mensagem é um pouco confusa, mas em algum momento o diretor parece estar criticando o modo de ver as coisas, com a ganância acima de tudo, do personagem Henry, interpretado por Dennis Quaid.

Essa crise de valores também aparece no italiano “È Stato Il Figlio” , de Daniele Ciprì, em que uma família siciliana ganha dinheiro como compensação do assassinato da filha pela máfia e compra uma Mercedes, apenas geração de mais tragédia.

A máfia japonesa, e sua tentativa de entrar em outras áreas e se modernizar com os métodos das grandes corporações, é o tema do japonês “Outrage Beyond” , de Takeshi Kitano. A transformação de qualquer pessoa em astro é o mote do francês “Superstar” , de Xavier Giannoli.

A seleção está tão azeitada que até os filmes fora da competição mantém uma conversa, como “Bad 25” , que também passa pelo assunto fama destrutiva. O curioso russo “Izmena” , de Kirill Serebrennikov, é o único com ligações pouco evidentes em relação a seus competidores. Em compensação, tem uma candidata forte à Coppa Volpi de melhor atriz em Franziska Petri, como uma médica que inicia um relacionamento com o marido da mulher com quem seu marido a trai. Sua principal concorrente é, por enquanto, Maria Hofstätter, uma católica fervorosa dada a castigos infligidos a si própria em “Paradies: Glaube”. Olga Kurylenko, de “To the Wonder”, corre por fora.

Entre os homens, como sempre, há mais competidores. Parece difícil tirar a Coppa Volpi de Joaquin Phoenix como o homem problemático a quem o criador de uma seita tenta salvar em “The Master”, mas Toni Servillo e Alfredo Castro, de “È Stato Il Figlio”, e Kad Merad, de “Superstar”, são bons candidatos.

A cerimônia de premiação acontece na noite de sábado (8).




Fonte: Último Segundo
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