quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Leitor da Folha discute leitura 'seletivista' do Pastor Silas Malafaia sobre Bíblia. Confira!


Pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, está à frente de 125 igrejas e 36 mil fiéis

Escrevo esta reflexão devido ao título da matéria Homossexuais querem superproteção das leis, diz Silas Malafaia, que aborda o sempre polêmico Silas Malafaia.

Sempre que escuto suas declarações, me choco com a insistência do pastor em relação à temática da sexualidade, baseado, sem dúvida, em uma leitura "seletivista" da Bíblia. Essa seleção dos fatos, por parte dele, se dá principalmente em duas dimensões.

Primeiro, exclui outras práticas tidas como imorais naqueles tempos, mas extremistas nos dias de hoje. Um exemplo é o fato da Bíblia proibir qualquer forma de contato com mulheres menstruadas (o que inclui cumprimentá-las), apedrejamentos em casos de adultério, e ainda uma série de restrições alimentares ignoradas pela contemporaneidade, além da vergonhosa escravidão.

Segundo, exclui também o modelo pregado por Cristo, de amor ao próximo, seja este leproso, prostituta ou escravo. "Não faça ao outro o que não deseja que seja feito a você", pregou Jesus. E a incumbência do julgar os pecados fica restrita à Deus, nesta tradição de crença, já que nós homens estamos fadados a pecar.

Discussões teológicas à parte, como cidadão de um estado laico, me estranha muito o pastor falar em política apenas para defender o combate às práticas sexuais, em um país com tantos problemas mais urgentes a ser combatidos, como as desigualdades de renda, o saneamento básico universal, e tantas outras ações que poderiam ajudar aos mais pobres, historicamente excluídos.

O ponto principal, no entanto, é tocar em uma grande ferida, aberta nas lacunas de um estado alegadamente laico: não seria "superproteção" das leis a isenção tributária das Igrejas, mesmo quando se sabe que altos valores são arrecadados pelo dízimo dos fiéis, muitas vezes revertidos em carros novíssimos para líderes religiosos e compras de horários em redes de televisão, cujos preços sabemos que são altos?

Por que permitir o casamento entre pessoas que se amam, querem se casar, constituir família e seguir suas vidas, é "superproteção legal"? Entendo que, se não sou homossexual, não caso com um homossexual. A meu ver isto é apenas uma extensão de direitos que, além de tudo, não gera ônus algum ao Estado.

Mas por que a isenção tributária às Igrejas, que evita a arrecadação de tributos que poderiam construir creches, escolas, melhorias no transporte público, não é considerada "superproteção legal", já que os líderes religiosos podem utilizar esse dinheiro como bem entenderem, se todas as ações monetárias são tributadas pelo governo, com exceção das ligadas às Igrejas?

Convido os amigos leitores --e o pastor em questão também-- à reflexão.



Fonte: Folha
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