domingo, 1 de abril de 2012

Jogador evangélico Felipe Melo diz ter visão levantando a taça na copa de 2014 pela seleção brasileira e dando testemunho

A Bíblia tem sido um manual de boa conduta para o carioca Felipe Melo desde a Copa do Mundo de 2010. Apontado como um dos vilões da eliminação nas quartas de final, ao ser expulso depois de dar um pisão em Robben, esse evangélico de 28 anos espera reescrever no próximo Mundial a famosa parábola do filho pródigo registrada nas escrituras.

Em alta na Turquia – camisa 10 do Galatasaray, líder do Campeonato Nacional e nove gols na temporada –, o volante profetiza por telefone ao Estado de Minas: “Eu me imagino levantando o caneco em 2014. Não precisa ser como capitão. Vou estar no grupo. Deus vai me abençoar e vou dar o meu testemunho. Todos vão se lembrar de que o Felipe Melo expulso em 2010 contra a Holanda deu a volta por cima quatro anos depois”.

A que você atribui a boa fase no Galatasaray?
O time está em primeiro lugar e jogando bem. Ao contrário do tempo em que jogava na Juventus, agora atuo como segundo volante, como na Seleção Brasileira. Tive ótimos números na Juve, mas não conseguimos ser campeões nem ir à Liga dos Campeões. Agora, com mais liberdade para avançar, até bati meu recorde de gols em uma temporada. Tenho nove. No Almería (2007/2008), fiz sete. O segredo da boa fase é o grupo muito unido. Não tem nenhuma estrela. Além disso, o treinador (Fatih Therim) é bom.

Você só não conseguiu segurar o Alex no duelo com o Fenerbahce... (risos)

O cara é muito bom, fez um gol no clássico. Mas eles não venceram o Galatasaray nesta temporada. Em casa, vencemos por 3 a 1 e fiz um gol. No sábado passado (17 de março), eles abriram 2 a 0 e empatamos, mas o placar moral poderia ter sido 9 a 3 para o Galatasaray.

O Real Madrid tentou contratá-lo. Por que não deu certo?
É um namoro que já vem de muito tempo, mas o Real tinha vários volantes na última janela de transferências. Eu teria de esperar, por exemplo, a saída do Lass Diarra. Falaram até numa troca, mas os valores não bateram. Não estava a fim de esperar muito, queria definir logo minha situação. Estive próximo do Paris Saint-Germain, cheguei a falar com Leonardo, mas pedi dois dias para conversar com a família. Nesse intervalo, surgiu a oferta do Galatasaray. O esforço que eles fizeram foi tremendo. Eu me senti importante.

Algum clube brasileiro o sondou na saída da Juventus?

Quando souberam que eu poderia ser emprestado, recebi proposta do São Paulo, mas não queria voltar ao Brasil. Nesse meio tempo, chegou a oferta do Galatasaray. Não conhecia a Turquia, tinha receio, mas eu e minha mulher estamos super adaptados. Mas foi maravilhoso o contato com o São Paulo. As portas continuam abertas lá.

Em 1994, Barbosa, o goleiro da derrota por 2 a 1 para o Uruguai na final de 1950, disse que no Brasil a pena máxima por um crime é de 30 anos e ele pagava havia 44 por um crime que não cometera...
(Silêncio) Minha pena foi a mínima. Não quero entender que meu afastamento é porque fui expulso contra a Holanda nas quartas de final da Copa. A era Mano Menezes já teve vários jogadores expulsos que voltaram, inclusive contra a Holanda, em Goiânia (Ramires). Nunca ouvi Mano dizer que as portas da Seleção estão fechadas para o Felipe Melo. Cartão vermelho não fecha porta. Não sou convocado por opção técnica.

Mas aquela expulsão foi em Copa...
Foi um erro por amar o Brasil e ter vontade de defender a nação. Perdi a cabeça, mas não atribuo a derrota àquela expulsão. Dei o passe para o gol do Robinho e estava perfeito na marcação. Levamos dois gols de bola parada e o time desandou. Robinho perdeu a cabeça, outros jogadores perderam. Eu era o pupilo do Dunga e fui o Judas do momento. Tinha receio de como seria minha chegada ao Brasil, mas, tirando um rapaz que me chamou de vacilão, o que me marcou foi uma moça que viajou de longe para me dar apoio. Fui descansar em Paraty (RJ), todo mundo manifestou solidariedade. Depois, fui à Disney com a família. Aprendi muito com aquele erro. Tinha a cabeça quente. Dois anos depois, sou muito mais tranquilo.

Você não é expulso desde 6/1/2011. Tomou um sossega-leão?
Sou nascido e criado em um lar cristão. Fui criado na Igreja Presbiteriana. Mas me desviei em busca de pagode, noitada, saí da linha evangélica. Hoje, tenho uma frase comigo: ‘É impossível, mas Deus pode mudar o quadro da minha história’. Entreguei minha vida a Deus. Hoje, sou evangélico de verdade. É difícil, mas Deus está me dando força. Quis mudar depois da Copa. Só tive um cartão vermelho. Serviu para aprender. Isso já tem mais de um ano. Mas é lógico que, se tiver de fazer falta para evitar um gol depois de o cara driblar nosso goleiro, por exemplo, vou fazer o possível pelo meu time, mas sem violência.

Você viu o teipe da expulsão contra a Holanda?
Algumas vezes. Hoje, é indiferente. Em 1994, Leonardo foi expulso depois da cotovelada no Tab Ramos contra os EUA. A diferença é que ele foi campeão. A imprensa deveria falar a verdade em relação a mim. Fui um dos melhores da Seleção em 2010, eleito pela Fifa o melhor passe da Copa. Deveriam dizer a verdade, mas alguns bobões que jamais jogaram bola na Seleção e muito menos disputaram Copa acabaram falando um monte de besteira. Como era o pupilo do Dunga, caíram em cima de mim.

Mas você não caiu na pilha do Robben?
Se fosse qualquer outro, aconteceria o mesmo. Foi a maneira que ele achou para privilegiar a Holanda. Não vi o jogo inteiro de novo nem vou ver. Não pela expulsão, mas porque vou chorar de novo como criança.

Qual o balanço da era Dunga?
Metemos 3 a 1 na Argentina lá dentro. Metemos 4 a 0 no Uruguai em Montevidéu, onde o Brasil não ganhava havia 33 anos. Nós nos classificamos em primeiro nas Eliminatórias, com uma das campanhas mais tranquilas dos últimos tempos. Na Copa, nosso grupo não deu problema com mulher, com noite... Hoje, posso dizer com toda a certeza: se tivéssemos passado pela Holanda, o Uruguai se comportaria nas semifinais como o Chile nas oitavas, com medo do Brasil. E na final iríamos engolir a Espanha. Depois do jogo com a Holanda, os irmãos De Boer chegaram a dizer que seu time venceu o Brasil porque Deus ajudou.

De quem foi a culpa no primeiro gol de Sneijder: sua ou de Júlio César?
A gente sabe quem errou naquele gol. Fiquei com um galo na cabeça, mas pode mandar para a minha conta. Tenho as costas largas. Assumo os meus erros. Independentemente de ser um grande goleiro, Júlio César está passando por má fase.

Mas ele obteve perdão, é titular da Seleção, e você ainda não voltou…

Não tem essa de perdão. Respeito a opinião do treinador. Lucas Leiva, Sandro, Hernanes têm alto nível e vou continuar aqui fazendo meu trabalho para voltar.

Como carioca, dá para imaginar assistir à Copa dentro de casa?
Eu me imagino levantando o caneco em 2014. Não precisa ser como capitão. Vou estar no grupo, pode acreditar nisso. Deus vai me abençoar e vou dar o meu testemunho. Todos vão se lembrar de que o Felipe Melo expulso contra a Holanda deu a volta por cima quatro anos depois.

Qual o seu clube predileto na volta ao Brasil?
Nunca escondi de ninguém que sou Flamengo, mas é difícil dizer que vou voltar à Gávea. Só tenho uma certeza: não jogaria no Vasco, Fluminense ou Botafogo. Podem me pagar o melhor dinheiro do mundo que não vou. Fora do Rio, aceito São Paulo, Grêmio e Cruzeiro, onde também tive o prazer de jogar (foi campeão brasileiro em 2003).

Na era Dunga, Messi jamais fez gol no Brasil. Vocês sabiam marcá-lo?
É uma coincidência. Vou ser sincero. Não vi Pelé jogar. Então, para mim, Messi está acima do Pelé. Para mim, é o melhor da história. Pelé e Maradona ficam atrás. A época deles é outra. Hoje, o futebol é mais pegado. Messi brinca com você. Não tem fórmula para marcá-lo. Tem de estar inspirado. Joguei contra Messi em Rosário, a terra dele, e ele não fez nada. Mas isso é o de menos. É um baita profissional. Nunca vi polêmica sobre ele. Parabéns a quem viu Pelé e Maradona. Vi Messi e Ronaldinho Gaúcho.


Fonte: Super Esportes - Correio Braziliense
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