sábado, 7 de abril de 2012

Nova teoria sobre os últimos dias de Jesus Cristo

Livro "O mistério da última ceia" escrito pelo investigador Collin J. Humphreys

O investigador Collin J. Humphreys defende no livro "O mistério da última ceia" que Jesus Cristo se reuniu à mesa com os apóstolos, pela última vez, numa quarta-feira e não na quinta-feira, como assinala a tradição.

Esta nova interpretação dos últimos dias de Jesus Cristo ultrapassa a discrepância que se encontra entre o Evangelho Segundo São João e os de Lucas, Mateus e Marcos, relativamente à Última Ceia.

O argumento de Humphreys é que foram usados diferentes calendários, tendo Jesus Cristo, para a refeição pascal, optado pelo "calendário pré-exílio", utilizado pelos judeus antes do êxodo para a Babilónia - um calendário solar utilizado na época, nomeadamente pela comunidade Qmran.

"Jesus utilizou, para celebrar a Última Ceia como uma refeição pascal, o calendário pré-exílio do antigo Israel", escreve o investigador da Universidade de Cambridge, citado pela Lusa.

Para Humphreys, o que estabelece diferenças entre os autores, nomeadamente os apóstolos, é a utilização de distintos calendários para os últimos dias de Jesus, embora todos coincidam em "identificar a data da crucificação como sexta-feira, 3 de abril de 33 d.C.", sendo "a data da última ceia quarta-feira, 1 de abril", do ano 33 depois de Cristo (d.C).

Fazendo os cálculos entre os diferentes calendários - o oficial judeu utilizado por João e o lunar utilizado por Mateus, Marcos e Lucas -, Collin J. Humphreys reconstrói os últimos dias de Cristo, fazendo concordar entre si os quatro Evangelhos que "também coincidem com as passagens relevantes dos Manuscritos do Mar Morto e com os historiadores judeus e romanos".

"A seguir à última ceia na noite de quarta-feira, Jesus foi preso às primeiras horas da manhã de quinta-feira. O julgamento principal pelo Sinédrio foi durante o dia de quinta-feira. Reuniram-se de novo de manhã cedo, na sexta-feira, para confirmar a pena de morte», escreve o autor referindo que, desta forma, está conforme a Mishná [lei escrita da tradição oral dos rabinos], em que se declara que "o Sinédrio só se pode reunir durante o dia e que, em casos capitais, deve reunir-se no dia seguinte", explica o autor.

Jesus de facto morreu quando "os cordeiros da Páscoa eram sacrificados", como afirmam vários textos, nomeadamente os Evangelhos, sublinha o autor britânico.

As discrepâncias de calendário prendem-se com as diferentes formas de contar os dias segundo tradições que os povos foram seguindo, até à instituição pelo Império Romano de um calendário oficial, o Juliano, e, mais tarde, no século XVI, o Gregoriano, pelo Papa Gregório XIII. Ainda hoje estas diferenças se fazem notar nas celebrações pascais de católicos e protestantes, que seguem o Gregoriano, e de ortodoxos, que seguem o Juliano.

Esta não é a primeira vez que Collin J. Humphreys, investigador no Departamento de Ciências dos Materiais e Metalurgia da Universidade de Cambridge, propõe uma reinterpretação de dados bíblicos, referenciando a Estrela de Belém como um cometa que apareceu no ano 5 antes de Cristo, e corroborando a afirmação de S. Pedro, no Livros dos Atos, de que a lua se transformou em sangue quando da crucificação de Cristo, que corresponderá a um eclipse lunar, ocorrido em 33 d.C., em que a lua teria tido um aspeto vermelho sangue.

Para o professor emérito do Novo Testamento da Universidade de Aberdeen, na Escócia, Howard Marshall, "a nova reconstrução histórica das provas deve ser levada muito a sério".

No prefácio de "O mistério da última ceia", editado pela Oficina do Livro, Marshall afirma que "a solução de Collin [Humphreys] é uma nova versão da velha teoria de que diferentes grupos judaicos poderão ter utilizado diferentes sistemas de calendário" e é "uma tese que permite um período de tempo mais adequado para todos os acontecimentos registados que têm de ser encaixados entre a ceia e a crucificação".


Fonte: Tvi24
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