domingo, 26 de agosto de 2012

Fogospel e Fla Gospel, torcidas evangélicas pedem paz no futebol antes do clássico

Já virou rotina. Entra ano e sai ano, mais pessoas morrem pelos estádios país afora em brigas de torcidas. O último foi o vascaíno Diego Leal, vítima de um confronto em Tomás Coelho antes do jogo contra o Flamengo há exatos sete dias. Com o objetivo de mudar este triste cenário, algumas organizadas que fazem jus à palavra vêm buscando seu espaço.

É o caso da Fogospel e da Fla Gospel, torcidas evangélicas dos rivais de hoje no Engenhão, às 16h. Em comum, mais do que o nome dos grupos, há a intenção de colocar de vez a violência para escanteio.

— É algo que não é lógico olhar para alguém e sentir um ódio de querer matar só porque está com uma camisa diferente. Tentamos passar a mensagem bíblica, de amar ao próximo como a si mesmo — diz Mickael Ferreira, de 37 anos, aspirante a pastor e presidente da Fla Gospel.

— Muitas pessoas, no estádio, manifestam o desejo de deixar de lado essa coisa da violência. São elas que a gente tenta tocar. A Fogospel existe para se infiltrar ali
— explica o pastor Hércules Martins, de 41, fundador da organizada.

As duas torcidas evangélicas fazem um trabalho de conscientização nos estádios

Para atrair a atenção dos torcedores, além do discurso religioso, os evangélicos distribuem panfletos que incluem o hino dos clubes, escudo, diagramação nas respectivas cores e, claro, salmos e citações (tudo escolhido a dedo para fomentar a paz). E funciona: um dos diretores da Fla Gospel, convertido após um tratamento contra as drogas, é ex-membro de uma das mais violentas facções rubro-negras.

— Eles sempre dizem que estão dando o troco por causa de alguma coisa, e vira um ciclo que não acaba nunca. Queremos retirá-los disso — afirma Mickael.

Quem resume toda essa filosofia é o motorista Bruno Bahiense, de 30 anos, líder do núcleo de Irajá da Fogospel.

— Gostamos de futebol, mas valorizamos a vida acima de tudo. O ser humano está em primeiro lugar.

A Fla Gospel e a Fogospel pedem paz nos estádios

Xingar o juiz? Nem pensar

A paixão pelo clube é a mesma de qualquer torcedor. Já a postura no estádio... Se você encontrar a galera gospel nas arquibancadas, não ouvirá os tradicionais xingamentos ao juiz nem tampouco aquelas ofensas violentas aos rivais.

— Não pode mesmo, é contra o que acreditamos. E temos que dar o exemplo. Se tivermos a mesma atitude, ninguém nos dará ouvidos — ensina Mickael.

— Temos a mesma explosão quando o gol sai, se o juiz erra... Mas o palavrão não é do vocabulário do evangélico. Acompanhamos todos os gritos e cantos, desde que não tenha xingamento ou mensagem de violência. A música para o Jefferson, por exemplo, eu não canto (aquela do “é o melhor goleiro do Brasil”) — conta o pastor Hércules, que vê como preconceito quem estranha a existência das organizadas gospel: — Não é pecado ir ao estádio, se divertir. Gostamos do clube como qualquer outro torcedor.


Fonte: Extra Globo
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