No clássico ‘Admirável Mundo Novo’ (que todos que gostam de ficção ciêntífica deveriam ler) Huxley descreve este diálogo entre um homem não civilizado e outro muito culto:
“- Então o senhor acha que não existe um Deus.
- Ao contrário, penso que muito provavelmente existe.
- Então por que… ?
- Mas ele se manifesta de modo diferente a homens diferentes. Nos tempos prémodernos, manifestava-se como o ser descrito nesses livros. Agora…
- Como se manifesta ele agora? – perguntou o Selvagem.
- Bem, ele se manifesta como uma ausência; como se absolutamente não existisse.
- A culpa é sua.
- Diga, antes, que a culpa é da civilização. Deus não é compatível com as máquinas, a medicina científica e a felicidade universal. É preciso escolher. Nossa civilização escolheu as máquinas, a medicina e a felicidade.
- Ainda assim – insistiu o Selvagem – é natural crer em Deus quando se está só,completamente só, à noite, pensando na morte…
- Mas agora nunca se está só – disse Mustafá Mond. – Fazemos com que todos detestem a solidão, e organizamos a vida de tal forma que seja quase impossível conhecê-la.”
Esse diálogo é uma descrição do que aconteceria em 2540 d.C., mas poderia ser 2012. O que me fez indagar:
O que na nossa vida é incompatível com a ideia de Deus? Os ideais da nossa sociedade apóiam-se em riquezas e aparência física e social. Muitas vezes nossos pricípios cristãos podem atrapalhar a nossa busca destas coisas. E então, qual tem sido nossa escolha? Deus se torna ausente para nós quando nossas conquistas estão em jogo? Muitas vezes nossa vaidade nos faz acreditar que a felicidade é incompatível com o nosso Deus.
Outra pergunta me ocorreu:
Somos ainda capazes de ficar sós? Ou mesmo quando colocamos a cabeça no travesseiro continuamos conectados com nossos 246 amigos do facebook? Assim como descrito no texto futurista, nossa vida está projetada para evitar a solidão e, consequentemente, a introspecção. Mesmo quando estamos no carro, sozinhos, sem acesso a internet, ligamos o rádio, fugimos de nossos pensamentos. Acreditamos na mentira que estar só é sofrer; e perdemos grandes oportunidades de comunhão com o nosso Deus.
Muitas vezes escolhemos as vaidades e as mentiras deste século de forma ingênua, mas não podemos alegar ignorância, pois sabemos que foi assim que Jeremias descreveu o futuro:
“A ti – Senhor – virão os gentios desde os fins da terra, e dirão:
Nossos pais herdaram só mentiras, e vaidade, em que não havia proveito.”
Fonte: Tão Simples
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