quinta-feira, 21 de março de 2013

É válido casar simplesmente no civil? Ou é necessário casamento religioso para confirmar o civil?

Casamento é uma ordenança da criação, não uma ordenança de culto (a palavra refere-se a uma forma de adoração, não sendo necessariamente negativa). Ele difere fundamentalmente de algo como o batismo e a comunhão.

Ora, batismo e comunhão precisam estar associados ao culto apropriado. Por essa razão, o batismo e a comunhão católica não contam. Se bem me recordo, Calvino apontou que uma pessoa que foi batizada no catolicismo-romano não precisaria ser batizada novamente. Eu discordo disso. Essa pessoa jamais foi batizada. Um mórmon ou budista pode lançar um balde de água sobre mim, mas isso não corresponderá a um batismo cristão. Eu nego que católicos sejam cristãos; portanto, nego que o batismo católico seja batismo cristão. Assim, me oponho neste ponto a muitos reformados e demais cristãos.

Também, os reformados até mesmo registraram em algumas de suas confissões que somente pessoas devidamente ordenadas poderiam batizar ou servir a santa ceia. Trata-se de uma grande bobagem. Não existe base bíblica para isso. Antes, a Bíblia diz que todos os cristãos são sacerdotes em Cristo; já que somos sacerdotes, e por também não existir qualquer exceção explícita a isso, até mesmo uma criança ou mulher cristã podem em princípio servir a ceia, assim como uma criança ou mulher podem ensinar e pregar a palavra de Deus. A única proibição a elas é autoridade oficial na igreja. É uma grande diferença. Por questão de ordem na igreja, alguns indivíduos, mais provavelmente ministros, são designados a batizar e servir a ceia, mas isso não significa que somente eles podem fazê-lo. É uma negação direta do sacerdócio de todos os crentes restringir funções sacerdotais a ministros ordenados ― como se houvesse uma elite entre os crentes, que é precisamente aquilo a que os reformados dizem se opor.

Casamento é diferente, pois ele não está associado a qualquer culto. Antes, o que “faz” um casamento é o acordo entre um homem e uma mulher de constituir esse tipo de relacionamento. Deus é a única testemunha necessária, sendo ele testemunha de todo casamento, seja Deus explicitamente considerado ou não. O primeiro casamento não teve o testemunho de terceiros. Não existia Estado nem igreja ― a não ser que usemos a palavra “igreja” de forma tão vaga que Adão e Eva tenham contado como igreja, mas ainda perceberemos uma diferença, já que não houve culto formal. Assim, Estado e igreja não podem criar nem destruir um casamento ― o relacionamento não tem relação necessária com essas coisas, mas é constituído somente entre homem e mulher. O Estado e a igreja podem apenas reconhecer o acordo entre o homem e a mulher. A igreja deve ser especialmente cuidadosa com relação a isso ― ela não tem um poder místico para constituir a união, e por isso não deve reivindicá-lo.

A implicação é consistente com o que (espero!) a maior parte das pessoas já sabe. Reconhecemos que casais não cristãos estão de fato casados, não importando como tenha se dado esse casamento. Se as duas pessoas dizem que estão casadas, acreditamos que estão casadas; e poderíamos esperar delas um comportamento de pessoas casadas, aplicando-se assim todas as proibições contra o adultério, bem como a liderança masculina, a submissão feminina, e assim por diante. Se o homem fugisse com outra mulher e se casasse ela, não iríamos encolher os ombros e dizer “Bem, na verdade ele era solteiro, e por isso não fez nada de errado”. Não, iríamos dizer que ele já estava casado, e por isso cometeu adultério e poligamia. Em outras palavras, não importa se um casal realizou matrimônio por uma igreja, pelo Estado ou mesmo por uma cerimônia vodu ― se eles concordam que estão casados, eles estão casados. A cerimônia é apenas uma formalidade acrescentada ao acordo matrimonial “real”. É claro, a Bíblia registra cerimônias de casamento, mas como história, e não como um ensino doutrinário que essas cerimônias seriam necessárias para se fazer um casamento. O que DEUS uniu, não separe o homem ― o homem não tem poder de fazer nem um, nem outro.

Cristãos consideram o casamento como especial e espiritual. Eu concordo. Mas isso não justifica a tentação de transformá-lo em algo que ele não é. Ele não é um sacramento. É um acordo instituído na criação, não um culto. Reservar algum poder especial à igreja para “fazer” uma união matrimonial é pensamento católico. É atitude muito hipócrita protestantes, especialmente os reformados, discordarem do que estou dizendo aqui.

Para resumir, nenhuma cerimônia humana que vá além do acordo entre o casal é estritamente necessária. Todavia, quando vivemos numa sociedade, existem frequentemente cerimônias e condutas vinculadas a esse acordo matrimonial básico, de modo que ele pode ser reconhecido nessa sociedade, podendo o casal então agir como uma unidade conjugal. É por isso que fazemos registro no governo, etc. O casamento civil é aceitável porque nenhum Estado ou igreja de fato realizam o casamento.

Imagino que muitos cristãos ficariam desconfortáveis com o que estou dizendo aqui, mas está tudo baseado em tradições humanas. Tenha você apenas em mente que essa doutrina não torna o casamento algo mais livre, mas sim algo mais rigoroso. Estamos dizendo que Deus exige responsabilidade de todo casamento, não apenas dos realizados numa igreja. Ele exige que todos os casamentos não cristãos sejam submetidos a padrões bíblicos, e é claro, essas pessoas jamais podem viver à altura desse padrão.

No plano pessoal, você deve reservar um tempo para definir a questão com base na palavra de Deus, e não na tradição humana, de modo que sua consciência fique alinhada com a verdade. E assim você será livre para agir de forma confiante e honrada.



Tradução: Marcelo Herberts em Monergismo
Fonte: Vincent Cheung 
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