quarta-feira, 13 de março de 2013

Quando o Céu já não pode esperar

Onde é que Paulo estava com a cabeça quando afirmou que para ele a morte era lucro (Fp.1:21)? Parece que não conseguiu convencer muita gente! Para a maioria dos que se dizem cristãos a morte continua sendo um bicho papão, um inimigo invencível, o maior de todos os prejuízos. Como já disseram por aí, todo mundo quer ir pro céu, mas ninguém tem pressa.

Tempos atrás noticiou-se que um presbítero de 87 anos faleceu em pleno culto após ter pregado um sermão em que enfatizou que Jesus é a ressurreição e a vida. Ironicamente, enquanto a igreja cantava o refrão de um louvor que dizia “Chegou a sua hora”, o velho guerreiro deu seu último suspiro e partiu para a eternidade. Segundo o pastor daquela igreja, aquele era o ‘sonho de consumo’ do ancião. Deus cumpriu o seu desejo ao tomá-lo durante o culto. Por saber disso, a igreja reagiu surpreendentemente, glorificando a Deus em vez de lamentar a partida do veterano presbítero.

Tal ocorrido me lembrou de meu velho pai, que costumava dizer que seu sonho era morrer enquanto pregava. Em vez disso, Deus o tomou enquanto dormia. Minha mãe, ao levantar-se pela manhã, flagrou-o deitado de braços e olhos abertos, esboçando um sorriso discreto, e achando que estava brincando, tentou acordá-lo inutilmente. Deus o tomara para Si. Se o que Jesus disse deve ser levado a sério, não foi a morte que meu pai viu, mas a face do Filho de Deus (Jo.8:51). Por isso o semblante dócil em lugar de pavor.

Outro caso digno de ser registrado é do pastor e cantor Moysés Malafaia, que no dia 18/07/2007, com 40 anos, foi tomado subitamente pelo Senhor enquanto pregava diante de 2 mil pessoas numa igreja do subúrbio carioca. Sua última palavra: ALELUIA! O lema de sua vida foi provado diante de uma multidão: ADORAREI ENQUANTO EU EXISTIR E FÔLEGO HOUVER EM MIM. Ele partiu adorando e deixando sua vida se gastar até a morte pelo evangelho do Reino de nosso Deus, sem clamar ou pedir por ajuda. No último fôlego que lhe restou, adorou a Deus!

Que outra reação deveríamos ter diante da morte?

Gosto de ler o deboche de Paulo: “Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó morte, a tua vitória?” (1 Co.15:55). O último inimigo da raça humana foi vencido, e chegará o dia em que finalmente será destruído (v.26).

Por isso, não há o que temer! Não há uma figura fantasmagórica de foice nas mãos à nossa espera na próxima curva. Não importa em que condições partiremos, se durante um culto, num leito ou num acidente automobilístico. Fecharemos os olhos aqui e abriremos na glória eterna, cara a cara com Aquele por cuja graça fomos alcançados. Através de Sua morte, Cristo aniquilou o que tinha o império da morte, isto é, o diabo, libertando assim a todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão (Hb.2:14-15).

O mundo não pode entender nossa postura diante da morte, porque não conhece o Autor da Vida. Muitos pasmaram diante da reação de dois pastores vítimas de um acidente envolvendo sete veículos na Rodovia do Contorno, trecho da BR 101 que liga Serra a Cariacica no Espírito Santo. Testemunhas do episódio contam que os pastores Nelson Palmeiras e João Valadão, ainda com vida e presos nas ferragens, em meio a um mar de sangue que os envolvia, começaram a cantar um hino que dizia:

Mais perto 

Quero estar meu Deus de ti! Ainda que seja a dor 
Que me una a ti, Sempre hei de suplicar 
Mais perto Quero estar meu Deus de ti!


Foi esta mesma canção que os membros da banda que estava a bordo do Titanic entoaram enquanto o navio afundava.“Preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos!” (Sl.116:15). Deus não é sádico! Ele não Se deleita em show de horreres, em banho de sangue. Mas nada Lhe compraz mais do que a postura dos santos perante a morte.

Para quem está em Cristo, morrer não significa ver a morte, mas deixar o tempo e adentrar a eternidade. Significa estar “mais perto de Deus”. Por isso morrer é lucro! Paulo diz que desejava partir “e estar com Cristo, o que é muito melhor!” (Fp.1:23). Muito melhor do que qualquer prazer que este mundo possa nos oferecer. Muito melhor do que a companhia de nossos entes queridos. Muito melhor do que as riquezas daqui. É simplesmente incomparável. Não creio que haja algum “estado intermediário” entre a morte e a glória eterna. Assim como não creio em purgatório. Creio sim, que deixamos o tempo e somos remetidos diretamente à eternidade, sem escalas, sem espera. O Dia do Senhor, o Juízo Final, nosso encontro com Ele nos ares, tudo isso se dará num piscar de olhos. Fechamos os olhos aqui, ao reabri-lo nos vemos diante do Senhor da Glória. Aleluia! Não haverá gozo maior que esse. Cara a cara com a razão de nossa existência!

Isso não significa que devamos desejar a morte. Não somos suicidas. O que nos prende a esta vida não é mais o medo da morte, mas o amor àqueles que nos foram confiados. Paulo explica que mesmo acreditando que morrer seria lucro, ele julgava mais necessário permanecer aqui por amor dos irmãos, tendo em vista o progresso e gozo de sua fé (Fp.1:24-25). Portanto, não se trata de apego a esta vida, mas de zelo por cumprir o propósito de nossas existências terrenas, que gira em torno do bem-estar dos que foram postos sob nossos cuidados.

Ninguém deixará esta vida enquanto o propósito de Deus para a sua existência não se cumprir. Nossos dias estão previamente ordenados (Sl.139). E quando chegar a hora, Deus encherá de paz o nosso coração e consolará àqueles que deixarmos.

Enquanto não chega nossa hora, vivamos por aquilo pelo qual estejamos dispostos a morrer. Não nos poupemos, mas deixemo-nos gastar por amor aos que nos foram dados. Afinal, é por eles, e unicamente por eles, que ainda estamos aqui.



Fonte: Hermes C. Fernandes em seu blog
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