quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Judeus não são “inimigos da Igreja”, diz Vaticano

Líder de grupo tradicionalista classificou desta forma os judeus, juntamente com maçons e modernistas, e culpa-os pela falta de entendimento com o Vaticano.

O Vaticano rejeitou formalmente a descrição dos judeus como sendo “inimigos da Igreja”. 

A Santa Sé reagia a comentários feitos pelo bispo Bernard Fellay, responsável da Sociedade de São Pio X (SSPX), um movimento tradicionalista, fundado pelo já falecido arcebispo Marcel Lefebvre, que está em ruptura com Roma e rejeita certas reformas do Concílio Vaticano II. 

Numa conferência com seguidores no Canadá, em finais de Dezembro do ano passado, Fellay falou longamente sobre as conversações com Roma que quase levaram à reintegração do grupo em Junho de 2012. Um obstáculo de última hora gorou essa reunificação, o teor das conversações é confidencial mas Fellay responsabiliza divisões internas na Cúria Romana pelo falhanço. 

Mas o bispo tradicionalista foi mais longe na atribuição de culpa e disse que outros responsáveis eram os maçons, os modernistas e os judeus: “que ao longo dos séculos têm sido inimigos da Igreja”. 

Apesar de os comentários terem sido feitos há várias semanas, só recentemente foram publicados na internet e começaram a causar mais polêmica, instando o Vaticano a responder. 

O diretor da sala de imprensa da Santa Sé veio segunda-feira a público rejeitar esta definição, com base precisamente no Concílio Vaticano II: “É impossível falar dos judeus como inimigos da Igreja” afirmou, acrescentando que a posição da Igreja sobre este assunto “é clara e bem conhecida”, uma referência à constituição apostólica “Nostra Aetate”, do concílio, no qual a Igreja afirma que não é possível culpar colectivamente os judeus pela morte de Cristo. 

Esta posição foi realçada também pelo Centro Simon Wiesenthal, de Los Angeles, um grupo judeu de defesa dos direitos humanos. Num comunicado o centro afirmou que o concílio “mudou a relação entre católicos e judeus para um sentido positivo” e sublinhou que a afirmação de Fellay foi reveladora “do anti-semitismo enraizado que está no coração da teologia da SSPX”.

Esta não foi a primeira vez que a SSPX se viu no centro de uma polêmica por causa de afirmações anti-semitas. Em 2008 vieram a lume afirmações de um dos quatro bispos da sociedade, o inglês Richard Williamson, que desvalorizava o número de judeus mortos no holocausto. Na altura Fellay silenciou Williamson e o ano passado, perante a insistência do bispo inglês, o capítulo geral da Sociedade decretou a sua expulsão.



Fonte: Renascença
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