sábado, 26 de janeiro de 2013

Igreja síria cresce em meio à guerra civil

Enquanto a situação do país piora a cada dia, mais e mais sírios encontram Deus e unem-se à Igreja: "Estamos orando e jejuando por esse crescimento da Igreja na Síria há anos."

O pastor Ouseph*, de Damasco, na Síria, tem um buraco em cada um de seus ternos. É o resultado de balas perdidas que invadiram sua casa quando ninguém da família estava por perto. Desde que teve início a guerra civil no país, a vida da população tornou-se cada vez mais difícil. Os cristãos enfrentam dificuldades extras, sendo alvo de ameaças específicas, como sequestro e violência brutal. 

Embora a Síria tenha uma história cristã, muçulmanos ameaçam cristãos, dizendo para que eles "voltem para o seu próprio país". Em sua perspectiva, os cristãos pertencem ao mundo ocidental. 

Desde dezembro de 2012, mais de 10 mil famílias cristãs fugiram de seus lares em bairros que, tão logo, foram tomados por salafistas (movimento reformista islâmico). Eles governam a cidade de Homs e partes da capital Allepo a partir de uma leitura rigorosa da sharia (lei islâmica): "Ao andar na rua, é possível ver pessoas sem mãos. Eles devem ter roubado algo", disse Ouseph. "Aqueles que ainda vivem em suas casas, em bairros anteriormente cristãos, estão em perigo 24 horas por dia", afirmou. 

Bombas

O som da guerra é frequente ao redor da casa do pastor Ouseph. Todas as noites ele prepara suas duas filhas para o que possa acontecer: "Se uma bomba explodir, você verá muito sangue, e poderá doer um pouco, mas, se morrermos, vamos fechar nossos olhos aqui e reabri-los no céu", diz ele, convicto de sua fé. "Embora a guerra em Damasco não seja tão feroz quanto em outras áreas do Estado, aqui, as pessoas também estão com muito medo. Simplesmente não há segurança em qualquer lugar, nem mesmo dentro de casa. Todas as manhãs, antes de entrar e sentar, as crianças verificam as carteiras de suas classes na escola à procura de bombas", contou Hanna, esposa de Ouseph. 

Em meio a esta situação, Deus fornece proteção a seus servos: "O Senhor nos livrou muitas vezes, mostrando-nos a localização de bombas para que nós pudéssemos desarmá-las", confessou o pastor. Os cristãos recebem pouco apoio de dentro, ou mesmo, de fora do país. Mas Ouseph reconhece as bênçãos que Deus dá à sua família através do caos na Síria: "Se, aqui na Terra, não houver nada no que confiar, você tem que confiar em Deus e isso é o que Ele nos ensina através desse período tão duro." 

Refúgio

Neste momento de tristeza, a igreja do pastor Ouseph tem sido um refúgio para muitos cristãos e não cristãos. Mulheres que foram abandonadas por homens que tiveram de lutar na guerra vêm à igreja para ouvir sobre o Evangelho de Jesus. 

Mesmo sobrevivendo em meio aos conflitos, a igreja viu suas orações, pelo povo de Homs, cumpridas de uma forma que nunca havia esperado: "Já há muitos anos, nós temos orado e jejuado pela abertura de uma igreja de nossa denominação em Homs", explica o pastor Ouseph, "mas Deus tinha outros planos: ele mandou o povo de Homs para a nossa igreja e o resultado disso é o crescimento que está acontecendo ali. A fé desses irmãos tem sido renovada mesmo durante a crise". 

Os cristãos que fugiram de suas casas perderam tudo: suas fontes de renda, escolaridade de seus filhos e qualquer tipo de ajuda médica. A Portas Abertas está ajudando diretamente a igreja local na Síria e fortalecido os crentes para que eles perseverem até o final. O incentivo é para que a igreja continue a crescer no país. A parceria com igrejas locais possibilita o envio de ajuda a mais irmãos necessitados. Também é fornecido suporte médico e auxílio para que as famílias desalojadas encontrem abrigo.


O trabalho mais importante da Portas Abertas, porém, é o encorajamento espiritual dos cristãos, proporcionando-lhes treinamento bíblico e literatura cristã, incluindo Bíblias: "É importante que a Igreja permaneça no seu lugar", ressalta Hanna, "se as igrejas deixarem o país, a Síria estará espiritualmente destruída."

Televisão

Cristãos não sabem o que esperar do futuro. Embora os salafistas reivindiquem a aceitação de cristãos na sociedade e no governo, crentes veem o país através de uma realidade diferente: "Nós não concordamos com o regime atual, mas tememos o governo islâmico que pode vir no futuro, já que ele pode ser ainda pior, especialmente para àqueles que creem em Jesus." A fé dos cristãos sírios é muito forte. Ouseph e sua família pararam de assistir televisão porque, em sua opinião, as emissoras só compartilham mentiras. Ao invés disso, se voltam para Deus todas as manhãs e pedem para que Ele os guie durante o dia e lhes proporcione tudo o que precisam saber. 

As pessoas em sua igreja seguem o exemplo: "Nossas notícias vêm do céu", disseram eles. É o que lhes dá paz e força para continuar. "Se continuarmos a orar, Deus vai fazer algo incrível, é o que todos nós sentimos", concluiu o pastor Ouseph.

*Nome trocado para a segurança do cristão.



Tradução: Ana Luíza Vastag
Fonte: Portas Abertas Internacional
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